A austeridade mata a liberdade de imprensa Versão para impressão
Quinta, 03 Maio 2012

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A liberdade anda sempre a par da diversidade. Uma e a outra são indissociáveis e no caso da liberdade de imprensa, esta ligação é ainda mais forte. No dia mundial da imprensa livre, que hoje se assinala, as principais grilhetas da liberdade não são mais de que o aniquilamento da pluralidade informativa que está hoje ainda mais a mercê da recessão global e da crise. O atual panorama dos media em Portugal é preocupante: a concentração de meios e títulos nas mãos de poucos, a precariedade das condições de trabalho e uma acentuada instabilidade laboral, a falta de especialização e um pendor fortemente generalista da maioria dos títulos, são as marcas de um novo jornalismo em grande transformação, em tumulto.

Se é verdade que a informação prolifera hoje como nunca antes, através da sua rápida disseminação nas redes sociais, de acesso mais facilitado, também não é menos verdade que esta vertigem do imediatismo é a maior marca do jornalismo atual. É preciso mostrar tudo com a máxima com rapidez. Divulgar. Revelar. Enviar. Sempre assim foi, é certo. Mas hoje importa cada vez menos a construção de pensamento critico sobre os factos noticiados, cada vez menos a reflexão. Mostra-se o anedótico, o trivial, a banalidade. Depressa e bem (?). E siga para outra. A imprensa especializada está ameaçada, os géneros jornalísticos são cada vez menos utilizados. Os jornalistas são hoje mais narradores, contadores de factos, debitadores de casos, descritores da realidade. Com menos espaço para refletir, comparar, ouvir, cruzar, analisar. O jornalista é hoje um artífice do imediato.

O paradoxo com que hoje nos debatemos tem justamente a ver com o facto de, a um maior espaço informativo não corresponder um maior espaço de informação, pelo contrário, informação e entretenimento confundem-se e o segundo domina o espectro mediático.

Para este estado de coisas, contribuiu decisivamente a degradação das condições de trabalho, a que assistimos nos anos mais recentes. Ironia do destino, a maior formação e especialização dos nossos jornalistas e outros profissionais dos media, crescente nas últimas décadas, não encontra hoje correspondência numa evolução acompanhada pelos conteúdos dos próprios títulos e órgãos de comunicação. Os profissionais são hoje muito mais especializados, com formação específica, treino especial para vários cenários, realidades. Mas o exercício da profissão tornou-se hoje muito mais geral, superficial, e as circunstancias que explicam esta realidade são claras. O agravamento das condições económicas do país não é alheio a este panorama global do jornalismo. Nas estações televisivas, rádios e jornais assistimos a alterações constantes, reestruturações de programas e secções, e mudanças também na estrutura organizativa. A diminuição e uma maior polivalência das redações foi também uma realidade que se acentuou em 2011 e foi em praticamente transversal a todos os órgãos. Os despedimentos a que assistimos também em vários jornais (Sol, Diário Economico, i, entre outros) são outro dos sintomas inequívocos de que a austeridade está a avançar, sem piedade, sobre a liberdade de imprensa.

Num país que atravessa uma profunda crise social, a situação da imprensa e dos media em geral é um barómetro para o estado da Democracia. Uma imprensa com vitalidade, forte, e crítica é ainda mais vital no panorama em que estamos. Mas infelizmente o que verificamos é que austeridade está também a matar a liberdade de imprensa.

Catarina Oliveira

 

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