Da parte de um Comum sem parte à luta de classes. Versão para impressão
Quarta, 14 Março 2012

redflagO pensamento crítico contemporâneo, através dos seus mais variados proponentes, tem-se debruçado no debate ontológico, político e sociológico sobre o Comum. Interessa-me, neste texto, colocar apenas algumas questões sociológicas e políticas acerca do que podemos entender como Comum ou Comuns.

Artigo de Luís Monteiro

«A luta de classes não é uma luta entre partes da comunidade, mas entre duas formas de comunidade: a comunidade policial que tende a saturar a relação dos corpos e das significações, das partes, dos lugares e dos destinos, e a comunidade política que reabre os intervalos separando os nomes de sujeitos e os seus modos de manifestação dos corpos sociais e das suas propriedades». RANCIÈRE,  Jacques in A Comunidade como Dissentimento

O pensamento crítico contemporâneo, através dos seus mais variados proponentes, tem-se debruçado no debate ontológico, político e sociológico sobre o Comum. Interessa-me, neste texto, colocar apenas algumas questões sociológicas e políticas acerca do que podemos entender como Comum ou Comuns.

Ora, primeiramente, a ideia de Comum, que é, essencialmente abstrata, tem diversas interpretações na sociedade, mas uma coisa é certa: o campo político de ação diferencia-as de uma forma abismal. E esse campo de ação, cada vez mais performatizado por uma pós-democracia (Rancière ainda) – e entenda-se aqui pós-democracia não como um termo na linhagem dos conceitos pós-modernos, mas uma alteração da relação de formas nos espaços democráticos existentes – faz-se notar por exemplo quando falamos em eleições legislativas nos partidos de governo e nos partidos de protesto, ou pessoalizando a questão, presidenciais com candidatos do poder e candidatos de descontentamento.

Pois bem. O que diferencia essas candidaturas antagónicas (ainda que concorram no mesmo jogo da democracia burguesa parlamentar) não é mais do que a diferença do que os «sem parte» têm do seu próprio comum e «os que já fazem parte dessa parte com comum» têm da mesma ideia do Comum.

Há outra questão a debater. Seguindo a lógica dos sem parte, é muito difícil, senão impossível, conceber a revolução a partir da multidão. Antes de mais, porque ninguém que se sente pertencente de um Comum com propriedade vai querer abdicar dele – burguesia – depois porque a própria ideia de multidão pode cair no erro de encarar, por exemplo, o que foi o 12 de Março em Portugal como uma imagem pré-revolucionária.

Sem querer retirar toda a importância, simbólica, até, do que foi o retorno à ideia da Rua, a multidão é algo excitante mas pode não passar disso. Poucos meses depois da maior manifestação desde o PREC, PSD e CDS formam Governo com maioria absoluta, consolidando o crescimento da Direita depois da eleição de Cavaco Silva.

Isto para dizer o quê? O conceito de multidão pode cair no erro de esquecer a chamada «maioria silenciosa» que faz parte de um tal Comum com parte – a tal multidão esquecida que não sai a rua.

 

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