Custe o que custar vamos gozar na terça-feira de Carnaval! Versão para impressão
Terça, 14 Fevereiro 2012

carnavalPassos Coelho, qual Moisés à espera de milagre que salve o seu povo acossado, ordenou a separação das águas: ou lutamos para sair da crise ou ficamos apegados a “velhas tradições”.  Tem razão num ponto: o Carnaval é uma velha tradição cuja origem pode estar no antigo Egipto (nas Festas da deusa Ísis e do Boi Ápis), ou na Pérsia (Festa dos Pastores), ou na Fenícia (festa da deusa da Fecundidade, Astarteia), ou em Creta (Festa da Deusa-Mãe), ou na Babilónia (as Sáceas,  festas com cinco dias de liberdade sexual, inversão dos papéis entre amos e servos e eleição de um escravo-rei, sacrificado no final das celebrações) ou, como defendia Veiga de Oliveira, nas saturnais romanas, e marca o “renovo da agricultura”, ao prenunciar a Primavera.

Mas Passos  erra totalmente quando separa o “ter” do “ser”. Não lucramos nada em apagar tradições porque isso é aniquilarmos a nossa essência como povo. Mesmo economicamente os festejos do Entrudo são um dos poucos momentos em que povoações isoladas e esquecidas do interior atraem o turismo interno e externo, ao reviver tradições únicas. E até as regiões vizinhas aproveitam a ocasião para promoverem os seus produtos regionais, como acontece com os concelhos da região da Serra da Estrela e as suas inúmeras festas do queijo e de artesanato, para atraírem os turistas que vêm de longe para participarem no Carnaval de Cabanas de Viriato (a  original Dança dos Cus), de Canas de Senhorim e de Nelas, ou no Entrudo de Lazarim (concelho de Lamego) com os seus inimitáveis “caretos” (máscaras de madeira).  E não há volta a dar-lhe: em Lazarim, “a Terça-feira Gorda ou de Entrudo é o dia grande do ciclo . É o Entrudo por antonomásia”, como testemunha o etnólogo Alberto Correia. É na terça-feira de Entrudo que o Compadre e a Comadre, depois do cortejo pelas ruas de Lazarim, lêem "os testamentos", quadras populares em redondilha maior que rapazes e raparigas solteiros esgrimem burlescamente, expondo em público os defeitos do sexo oposto. Não esqueçamos, porém, que “zombar” para além de significar “escarnecer”, também pode querer dizer “seduzir”, pelo que parodiar os defeitos alheios em público pode não passar de uma forma lúdica de sedução, uma “parada nupcial” invertida, tipo “quem desdenha quer comprar”, disfarçando os sentimentos próprios ou até sublimando feridas de amor. Mas os testamentos também servem para fazer crítica social e desmascarar a hipocrisia. Aos membros do outro grupo são deixados em herança as várias partes de um burro (os dentes, a cauda, o freio e até a memória do asno). As máscaras (os “caretos” ou “senhorinhas” se a careta for feminina), admiráveis peças de arte popular, esculpidas em madeira de amieiro ou, mais raramente, de castanho ou nogueira, cumprem a função que sempre tiveram desde os ritos mágicos primitivos até ao teatro: despersonalizar, generalizar, permitir a licenciosidade que as autoridades civis e religiosas, coadjuvadas pelos polícias e sacristães em que a moral colectiva transforma a maioria de nós, só autoriza no Carnaval.
Os portugueses não toleram que lhes roubem velhas tradições como o Carnaval (como testemunhou o primeiro-ministro Cavaco Silva) e não será agora, que já estão a ficar mais do que fartos dos insustentáveis tratos de polé dos governos lacaios da Troika, que irão ser piegas e perdoar a quem os impedir de aproveitar esta ocasião para gozar e ridicularizar os seus incompetentes e carrancudos governantes.
Carlos Vieira e Castro
 

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