É o capitalismo, estúpido Versão para impressão
Terça, 03 Maio 2011


 

"A causa das crises não está no crédito mas nas condições de produção; é preciso nunca perder isto de vista. É o sistema de produção capitalista que torna inevitável o desenvolvimento e a repetição das crises económicas." Karl Marx 1

 

O sistema do crédito têm sido um dos bodes expiatórios da crise.

Muitas vezes ouvimos dizer que o elevado endividamento dos cidadãos junto da banca é uma das causas da actual crise económica.

Esta retórica que tende a culpabilizar o simples cidadão por viver acima das suas possibilidades tem o seu auge de hipocrisia quando surge directamente da boca de banqueiros que vivem dos juros desses empréstimos, ou de empresários que utilizaram o crédito fácil para potenciar os lucros das suas empresas.

Marx explica que o crédito é uma das ferramentas do capitalismo, explica também que é no crédito que primeiro se sentem as crises económicas pela impossibilidade de pagamentos resultante dos ciclos de superprodução.

Atribuir ao crédito toda e qualquer responsabilidade sobre uma crise que é consequência do método de exploração capitalista acaba por ser uma forma de desresponsabilizar os verdadeiros culpados.

Não é uma maior regulação do crédito que o irá fazer; a única coisa que irá curar a economia é a exploração de novos mercados e a sobre-exploração dos até agora existentes.

Traduzindo, a economia será relançada se os actuais trabalhadores do mundo desenvolvido permitirem um aumento da sua exploração (redução de salário directo e indirecto, férias e subsídios... ) e com a exploração de novos países que começam a (re-)aparecer na cena Capitalista entre eles os BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) e os CIVETS (Colômbia, Indonésia, Vietname, Egipto, Turquia e África do Sul).

A juntar a estes podemos pensar nas recentes investidas do Ocidente no Médio-Oriente, Próximo-Oriente e Magrebe.

Há à esquerda quem defenda que um capitalismo de rosto humano, devidamente regulado e vigiado é a solução.

Muitas vozes pedem a convergência com a direita: para que em nome dos cidadãos esqueçamos a ideologia e estejamos dispostos a colaborar para uma solução.

Estas são as mesmas vozes que não estão dispostas a prescindir da sua ideologia nem discutir outras soluções que não as suas: a ideologia do capital e as soluções de adiamento do problema.

Acredito que a esquerda conseguiria apontar melhor as falhas e as soluções para voltar a colocar o comboio do capitalismo nos carris, ninguém melhor que Marx explicou como funciona esta locomotiva e a direita há muito que deixou de o ler.

No entanto, cada crise será sempre maior e com consequências mais pesadas para os cidadãos sendo sempre a culpa de quem colocou o remendo.

O papel da esquerda não é remendar os erros do capitalismo.

O papel da esquerda é demonstrar o erro que é o capitalismo e que esta crise não é produto do crédito, dos mercados ou das agências de rating.

Esta crise é o capitalismo, é a essência do capitalismo.

Não é só uma questão de enganarmos aqueles que acreditam em nós e numa sociedade socialista: é uma questão de nos enganarmos a nós próprios.

Francisco Silva


1 Karl MARX citado por Jean BABY, Leis Fundamentais da Economia Política, Ed. Autor, Porto, 1972

 

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