Fernando Nobre – o novo D. Sebastião? Versão para impressão
Quarta, 13 Abril 2011

 

As últimas presidenciais constituíram uma clara derrota para a esquerda portuguesa. As razões para tal foram, desde logo, esmiuçadas e desconstruídas, destacando-se dois factores para o desenlace deste acto eleitoral – o apoio do PS de José Sócrates a Manuel Alegre e a candidatura de Fernando Nobre.


Fernando Nobre conseguiu, surpreendentemente, alcançar a significativa votação de mais de meio milhão de portugueses com a veiculação da sua estratégia de campanha pela cidadania e, principalmente, pela recusa premente à colagem a uma cor partidária. O seu discurso conseguiu, sem qualquer margem para dúvida, cativar uma considerável fatia da população portuguesa, cansada do circo político instalado no nosso país patente na vida político-partidário do Bloco Central e sedenta por uma “lufada de ar fresco”. Nobre afigurou-se como a personificação deste ideal para os eleitores que nele confiaram o seu voto.


Volvidos alguns meses e com a rápida alteração do quadro político nacional – desenganem-se que o pedido de ajuda externa ao FEEF e, consequentemente, ao FMI não era desde logo uma estratégia escrupulosamente trabalhada pelo PS/PSD – surge a, surpreendente (?), notícia de que o presidente da AMI Portugal irá encabeçar a lista do PSD pelo círculo eleitoral de Lisboa, sendo simultaneamente o candidato social-democrata à Presidência da Assembleia da República. Consequentemente, instalou-se um sentimento nacional de traição por parte de Nobre em relação àqueles que confiaram no seu discurso eleitoral totalmente falacioso. Infelizmente, a súbita mudança de tomadas de posição políticas de acordo com a direcção para que o vento sopra é o baluarte da política portuguesa.


Às imediatas críticas que surgiram, Nobre respondeu, através do seu ex-director de campanha que apenas aceitou o convite devido às valências da posição de Presidente da AR. Segundo este, o cargo “permite outro género de intervenção e cidadania”. Acrescentou ainda que a sua mudança de atitude em relação aos partidos políticos se deveu à “alteração de vida em Portugal nas últimas semanas” e que sentiu o ímpeto de actuar, sendo este cargo lhe confere a capacidade de exercer uma “intervenção de cidadania e independente”.


O PSD não olha a meios para chegar ao governo, procurando alianças e ganhar influência sem ter qualquer tipo de respeito e coerência política. No entanto, para que tal se pudesse materializar, precisava do aval de Nobre. Como já ficou comprovado, o “candidato independente”, revelou a sua outra face. A face do aproveitamento político. Afinal de contas, obter mais de meio milhão de votos é positivo apenas, quando, se podem retirar dividendos práticos do mesmo. Nem que para isso, tenha que trair aqueles que nele confiaram e, também, ir contra as suas próprias “supostas” convicções.


Surgiu também a notícia de que, para além de PSD, também o PS procurou obter o apoio de Nobre tentando integrá-lo na sua lista. Esta surge apenas como mais uma prova da igual forma de pensar política e de agir dos dois partidos do Bloco Central. O que é relevante na definição de uma caracterização do candidato-tipo por parte destes dois partidos é que, não levam em conta ideologias, posições políticas coerentes ou capacidade de trabalho, mas sim a capacidade de ir buscar votos ainda que para tal, se use uma figura de engrandecimento político.


Este afigura-se apenas como mais um dos incontáveis episódios da telenovela política portuguesa. A aceitação popular desta jogada política parece ter saído como um tiro pela culatra para Nobre. Em pouco mais de um dia a sua página pessoal do Facebook foi invadida de uma torrente de comentários nos quais está patente a desilusão daqueles que eram seus apoiantes. Por consequência, e visto que a crítica e a perda de apoiantes não deve ter agradado muito ao candidato social-democrata, a página foi fechada pelo seu administrador. O arauto da cidadania vê-se contaminado pelos tiques fascizantes a que a direita já nos habituou. A legitimação desta tomada de posição por parte de Nobre é justificada, por este, como sendo quase como que o seu “chamamento”. Que esta é a altura certa para ele entrar no jogo político-partidário afirmando que é a única maneira de poder exercer todo o seu enorme potencial prático de exercer a cidadania. A questão que fica no ar é, se aprovar mais austeridade, cortar nas pensões, aumentar o IVA, acabar com o Estado Social desmantelando o Ensino e Saúde Pública, se tudo isso é exercer a cidadania ou, pelo contrário, destruir esse ideal tão Nobre.

Cláudia Ribeiro

 

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