BE e PCP, Ruptura e Daniel Oliveira Versão para impressão
Terça, 29 Março 2011

Há propostas de largo espectro, propostas que partindo de visões tão diferentes parecem juntar-se onde menos se espera. Essas propostas motivam positivamente o debate na net e junto-me a ele.

Em resumo, poder-se-á dizer que Daniel Oliveira propõe que o BE proponha, e que o PCP também proponha, um programa mínimo para juntarem-se ao PS. O grupo Ruptura também quer que o BE proponha um programa mínimo mas apenas ao PCP.

Na minha modesta opinião, ambos estão iludidos, desejando que os destinatários das propostas façam “acto de contrição”. Será que PS e PCP precisam de ajuda para não tornar a pecar?

1. Tanto uma como outra proposta cai no erro de esperar que o PS poderá ter uma posição forte nas próximas eleições. Presumo que seja previsão errada. A partir das eleições presidenciais Cavaco decidiu tomar as rédeas da acção e nem a jogada de antecipação na demissão de Sócrates lhe vai servir de muito. Cavaco joga ao lado do PSD, a ameaça e a chantagem do medo dominam a sociedade, as elites dominantes decidiram voltar a privilegiar o original e já não necessitam da fotocópia. Se isto estiver certo deixarão o PS na estação e colocarão o PSD na locomotiva.

2. O programa mínimo de Daniel Oliveira é mesmo mínimo na exigência: não fala nas privatizações, na defesa dos serviços públicos, na NATO... Poderia defender a lei dos contratos a prazo do tempo de Guterres (os trabalhadores passavam a efectivos ao fim de um ano a prazo) e exigir que o PS deitasse ao lixo o vergonhoso acordo agora assinado na Concertação Social que prolonga a precariedade até à eternidade, mas nem isso. Não chega sequer ao rendimento mínimo da esquerda.

3. O programa mínimo do grupo Ruptura aponta a uma plataforma unitária com o PCP. A ideia ganha, compreensivelmente, o coração daqueles e daquelas que há 35 anos acalentam a “unidade da esquerda”. Mas Jerónimo de Sousa não esperou pela demora e na sexta-feira passada em entrevista ao SOL, e esta segunda-feira em depoimento à RTP, rejeitou - sem dúvida - essa possibilidade.

Desde que o PCP criou os Verdes [que nunca concorreram isolados a uma única eleição] que a CDU rejeita todas as coligações, da Madeira ao Continente. O único e famigerado acordo pré-eleitoral que existiu na história foi quando o PCP aceitou – em nome da unidade da esquerda - um acordo eleitoral com a UDP em que esta entrava com um candidato a deputado como independente no âmbito da CDU; o nome UDP foi apagado.

No que a acordos pós-eleitorais diz respeito o PCP só os tem aceite nas autarquias locais, muitos com o PSD e alguns com o PS.

4. Qualquer pessoa sabe que o PCP nunca aceitará uma plataforma unitária. A persistência na proposta, embora legítima, é tão inútil que só parece explicada pela anedota do sapo e do escorpião. Desde a morte de Álvaro Cunhal que o PCP reforçou o caminho da sectarização do movimento sindical e diminuiu a democracia sindical. A candidatura ao “parlamento burguês” é hoje mais democrática e fácil do que a “democracia operária” e a candidatura à direcção de muitos sindicatos. O dogmatismo reforçou-se e se os direitos dos trabalhadores se defendem em Portugal na China são omitidos; ninguém de bom senso acredita num socialismo de referência coreano. O internacionalismo proletário é proclamado na via etérea porque o nacionalismo que hoje domina o PCP rejeita a construção da alternativa política europeia ao capitalismo.

5. As posições políticas e sociais comuns, parlamentares ou não, não são nenhum problema entre PCP e BE e portanto não necessitam de nenhum programa formal comum. O problema é que os votos são insuficientes – haja votos para a esquerda e a esquerda avançará. Ao contrário do que algumas pessoas pensam, a pluralidade e a diferenciação na esquerda só traz mais votos aos partidos da esquerda.

6. A ingenuidade prossegue ainda no artigo de Jorge Bateira nos “Ladrões de Bicicletas” defendendo “seminários de trabalho com economistas do PCP, do BE e independentes (…) que deveriam culminar com a candidatura unitária Convergência e Alternativa” como se os economistas fossem um caso à parte dos políticos, como se a economia fosse um caso à parte da ideologia.
7. Quanto à ideia de “estratégia europeia coordenada com Irlanda, Grécia e Espanha para uma renegociação da dívida” parece-me um equívoco. Se há coisa que todos os dias os telejornais mostram é a vassalagem de cada país à Srª Merkel e de todos aos deuses especuladores; a centralidade política não está na exigência da renegociação da dívida mas na apresentação da alternativa sobre quem deve e pode pagar a dívida.

A saída política remete-nos para a frase fundadora do BE: não esperamos nada do PS e não ficamos à espera do PCP. Vamos à luta.

Victor Franco

 

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