Este País não é para Jovens... Versão para impressão
Quinta, 24 Março 2011

A juventude é tempo de construir. Construção da individulalidade, solidificação e definição da personalidade, construção de um projecto de vida que passa pelas mais diversas vertentes desde as relações afectivas, às questões da carreira profissional, emprendedorismo, participação social e política.

Finda a adolescência, as jovens adquiriram já recursos de autonomia, capacidade reflexiva e know-how para serem as protagonistas na criação do seu futuro. Arrojados, empreendedores, criativos, assertivos, inovadores, são características que usualmente atribuímos aos jovens, porém, perante a conjuntura política e económica com que nos deparamos ser jovem torna-se uma epopeia digna de um filme hollywoodesco.

Que futuro? Não se abrem horizontes e infinitas possibilidades de construção e por muita que seja a criatividade e a assertividade dos jovens portugueses, estes parecem sempre esbarrar contra as inúmeras dificuldades que lhes são impostas.

Finda a escolaridade é dada a ilusão através das ideias patriarcais do meriticismo que se a competência for muita, a assertividade, o empreendedorismo e a insistência, tudo se consegue e a vida torna-se uma escalada triunfante onde, através do mérito e trabalho árduo, se chega ao emprego e à qualidade de vida desejada. Alicerces esses que constituirão as bases do futuro. Estas ideias não passam de “estórias da carochinha”, ilusões que se esfumam de imediato quando, findo o período académico, a jovem mulher se lança, ainda confiante, em busca do primeiro emprego. Neste primeiro contacto, depressa percebe que as ofertas são escassas e muitas delas fictícias (apenas isco para preenchimento de bases de dados), de que as poucas ofertas laborais existentes requerem toda a formação e especialização que se possa imaginar, total disponibilidade horária e uma experiência profissional de vários anos pelo fabuloso salário mínimo nacional e contrato precário ou a recibos verdes. Mesmo assim, apoiada na necessidade da construção do seu futuro e ainda com a confiança que com muito trabalho, esforço e mérito depois há-de conseguir melhorar o seu salário e alcançar um contracto laboral mais digno, a jovem lança-se em busca de uma entrevista.

Até aqui, todos os jovens se revêm mas no caso das jovens mulheres temos ainda outras particularidades. Nas entrevistas dirigidas a mulheres vêm as perguntas que todas sabem ter de responder “É casada? Está a pensar casar?”, “Tem filhos ou planeia tê-los?”... Questões estas que revelam, por parte do entrevistador, um certo tom de constrangimento denotando uma certa desilusão e que para a mulher são uma encruzilhada porque dois factores se querem sobrepor à sua liberdade e à sua dignidade enquanto ser humano. O que responder nem sempre é fácil e linear porque se, por um lado, o “não” a todas as questões parece ser o melhor caminho para conseguir o maravilhoso posto de trabalho precário, esta resposta é amplamente condenada socialmente já que socialmente se espera que a mulher adulta, “digna de respeito” tenha uma relação afectiva estável, se case e tenha filhos. O que a jovem mulher quer realmente não é relevante, continuamos a constactar que não foram feitos ainda todos os avanços necessários nas mentalidades e o que ainda é mais importante socialmente é que a mulher faça e se comporte de acordo com o que se espera dela. Ou seja, a mulher tem ainda um papel social definido de como “deve ser”, de “como é” ser mulher.

Curiosamente, o candidato masculino não se depara com estas questões na maioria das vezes. Parece que o casamento e os filhos são algo que diz exclusivamente respeito às mulheres e que os homens não participam. A assistência à familia continua a ser algo que só diz respeito à mulher na cabeça dos empregadores.

Duas escolhas parecem emergir desta visão retrograda a patriarcal: sendo mulher, ou se trabalha e não se constitui família ou se constitui família, não se trabalha. Esta perspectiva detém a jovem mulher, coloca-a em último plano na sua liberdade, no seu direito à escolha, no seu direito à sua independência, autonomia e construção do seu projecto de vida.

Conseguindo o posto de trabalho com a devida contribuição da resposta correcta (correcta para o empregador, incorrecta talvez para a candidata mas principalmente respostas que não deviam ser dadas porque as perguntas não deveriam ser feitas), a mulher depara-se ainda com outros obstáculos que esta sociedade conservadora e liberal acarreta: um salário mais baixo que os seus colegas homens que têm a mesma qualificação e experiência laboral e alguns postos/tarefas laborais bloqueados.

Muitas formas existem de contornar a igualdade de género e os liberais e as poliíticas do bloco central são doutorados nelas. Como não se pode diferenciar as categorias salariais por sexo, é fácil contratar mulheres inserindo-as em postos como “ Técnicas de 3ª categoria” e homens como “Técnicos de 2ª ou 1ª categoria” isto tratando-se de técnicos com a mesma qualificação e experiência profissional.

A juventude portuguesa está detida e aprisionada por todas as políticas tomadas, pela crise e pelas medidas de austeridade que lhe roubam o futuro, lhe tiram voz e esfumam as oportunidades, mas as jovens mulheres encontram-se ainda mais amordaçadas porque lhes acresce a discriminação de género à lista de todos os direitos retirados aos jovens.

É importante terminar as repressões e a união de tod@s na reinvindicação ao direito à dignidade, ao trabalho estável com salário justo e direito à liberdade de escolha e de construção de um fututo que deve ser livre de opressão para tod@s @s human@s. Nesta união por esta causa que é o direito ao fututo usurpado pelas políticas do governo central e liberal temos de ter uma discriminação positiva pelas questões que afectam exclusivamente a mulher, a sua voz e os seus direitos. É urgente retirar as mordaças a to@s @s jovens.

Foi por isso que no passado dia 12 de Março de 2011, saímos à rua e marchámos em Lisboa na Avenida da Liberdade reclamando a nós aquilo que a Avenida nos inspira: Liberdade. A Liberdade que a democracia deveria proporcionar e que para nós implica factores como dignidade, direitos, qualidade de vida, fim da opressão. Não se trata apenas de uma questão de geração e juventude. O futuro foi-nos roubado a todos e queremo-lo de volta. Lutamos para sermos novamente senhores do nosso futuro, gestores da nossa vida, livres da opressão, escravisação e precariedade que este governo central nos quer impor.

Saímos à rua contra a repressão que este governo central nos impõe. Gritámos, machámos, demos voz a todas as gerações, a todas as pessoas, mostrámos democracia na rua, mesmo que por umas horas, mesmo que em poucas avenidas do país. Que esta iniciativa seja a primeira de muitas para que possamos reinvindicar a voz de tod@s, os direitos de tod@s, a liberdade de tod@s.

Sem futuro, sem liberdade, sem direitos é a isso que as medidas que têm vindo a ser tomadas pelo governo central nos levam e cabe-nos a nós exigir o que nos é devido por direito.

Juntamente com desempregad@s, precári@s, as mulheres fizeram notar a sua voz numa manifestação sem género, numa manifestação de tod@s e para tod@s. É para continuar!

Nádia Cantanhede

 

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