Alguns são mais iguais Versão para impressão
Domingo, 29 Março 2009
Uma das tarefas fundamentais do Estado é promover o bem-estar e a qualidade de vida do povo e a igualdade real entre os portugueses. Sócrates e o seu governo são incapazes de cumprir esta tarefa. George Orwell escreveu "todos os animais são iguais mas alguns animais são mais iguais que os outros", para o governo os portugueses são iguais mas alguns são mais iguais que outros.
Texto de Ana Cansado

José Sócrates foi recebido pelo público presente no grande auditório do Centro Cultural de Belém (CCB) com uma vaia geral quando entrou atrasado num espectáculo. Os espectadores ali presentes mostraram desse modo o descontentamento por ter de esperar cerca de meia hora para se dar início ao espectáculo por causa de sua excelência. Aplaudo a sua reacção mas preocupa-me que o CCB, embora cobre entrada a todos os espectadores, faça a maioria esperar por um.

Que eu saiba não era um evento de Estado, nem Sócrates era o convidado de honra para abrir o evento. Não que ache mal que este assista a espectáculos culturais mas nesta situação não me parece justificável esta atenção particular que desconsidera todos os outros espectadores. O facto do primeiro-ministro ter estado à espera do seu homólogo de Cabo Verde não justifica o sucedido mas revela uma tendência no executivo de Sócrates. A culpa nunca é dos próprios - no caso em apreço o atraso é da responsabilidade do Primeiro Ministro de Cabo Verde e não de Socrátes - e é perfeitamente aceitável que os governantes, mesmo quando não estão em exercicío de funções de Estado sejam tratados como cidadãos de primeira - os eventos públicos servem os cidadãos em geral após servirem os membros do governo.

Vejamos outra situação que se passou em Fevereiro deste ano o Ministro das Obras Públicas, a propósito de um comentário relativo ao custo do evento de publicidade governamental, que foi a assinatura da concessão da autoestrada do Litoral Oeste, veio lamentar-se e dizer que o seu gabinete é inocente e vítima de uma oposição que não o deixa mostrar aos portugueses as valerosas obras que promove.

O senhor ministro disse que os custos com as despesas da cerimónia não podem ser imputados ao governo - nunca são culpados - porque são da responsabilidade da empresa concessionária e, com um ar enfadado pela insistência dos jornalistas, esclareceu que o preço destas cerimónias ronda apenas os 50 mil euros e não os 500 mil euros referidos por esses vis opositores que só querem tirar o brilho a estes projectos que têm como objectivo melhorar as condições de vida dos portugueses. Como é normal não tenho um gosto particular em estragar as festas de ninguém mas não é possível acreditar no ministro quando, após participar num evento de algumas horas que custa 50 mil euros, diz ter em mente os interesses dos portugueses quando a maioria não aufere sequer 10 mil euros ao fim de um ano de trabalho. Não é coerente!

A necessária divulgação pública às populações do que se vai construir, do que se vai fazer, das datas em que começam as obras não está em causa. Na verdade até pedimos mais. Queremos maior participação na decisão de grandes obras públicas e um esclarecimento da definição de interesse público. O que é inaceitável é que um ministro não tenha consciência do que são 50 mil euros para os cidadãos do seu país. Para uma pessoa que acabou de perder o emprego ou a casa por não conseguir pagar o empréstimo ou alguém que teve de dizer a um filho que não pode pagar mais as suas propinas... 50 mil euros salvam vidas. Não é decente!

A elite económica e política confunde deliberadamente os privilégios associados às funções de Estado com privilégios privados. O tratamento especial que os governantes esperam e aceitam quando agem num plano privado, isto é, quando enquanto cidadãos decidem assistir a um espectáculo, e mesmo quando em funções de governo participam em eventos que mostram que de facto a crise não atinge todos por igual, ofende os portugueses. Como pode o Estado exigir sacrifícios ao povo português quando o governo nunca assume responsabilidade pelos resultados negativos da sua governação e considera natural que as instituições e os portugueses sirvam as suas necessidades.

Uma das tarefas fundamentais do Estado é promover o bem-estar e a qualidade de vida do povo e a igualdade real entre os portugueses (Constituição da República Portuguesa). Sócrates e o seu governo são incapazes de cumprir esta tarefa. George Orwell escreveu "todos os animais são iguais mas alguns animais são mais iguais que os outros", para o governo os portugueses são iguais mas alguns são mais iguais que outros.

O que é grave é que para o governo isto não é ironia nem ficção!

Ana Cansado

 

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