“Suíça proíbe minaretes islâmicos”: O inferno de Dante e o farol dos neutros Versão para impressão
Segunda, 30 Novembro 2009
PH 7 é neutro, mas é 10 vezes mais ácido que PH 8…  E a Suíça também é neutra.

Hoje [29Nov2009], na terra dos neutros, 57% dos cidadãos suíços decidiram em Referendo proibir a construção de minaretes.  Os minaretes [nome que etimologicamente deriva de “manara”/farol] são as torres ou plataformas destinadas à convocação dos islâmicos para as orações. Na Suíça, um país de 7,7 milhões de habitantes, dos quais 400 mil são islâmicos, e com um universo de cerca de 180 mesquitas e centros religiosos, apenas existem 4 locais de culto com minaretes. O pretexto para esta polémica foi o pedido de licenciamento de construção de novos minaretes.

Artigo de Bruno Góis

Na verdade, o que estava em causa não eram os minaretes em si: o objectivo da convocação deste referendo vai mais fundo. O referendo foi convocado pela iniciativa popular “Contra a construção de minaretes" dinamizada pelo Partido Popular Suíço (SVP - Direita populista e xenófoba). O que esta Direita, cada vez mais Extrema-direita, quis colocar em referendo foi o islamismo. Acusaram os minaretes de serem o símbolo político da invasão islâmica e fizeram cartazes em que aparece uma mulher de burca negra na frente de um cenário feito de uma bandeira suíça “minada” com minaretes assemelhados a mísseis. A ideia é simples: é colar o islamismo à ideia de “invasores” e “terroristas”.

O mais preocupante não é a Direita ter ideias destas: é o acolhimento popular que recebem. As sondagens estavam completamente erradas: as sondagens diziam, dois dias antes, que a proposta não tinha hipóteses de ser aprovada. Contudo, no momento do voto, a xenofobia não teve vergonha, tornou-se pública e fez-se lei. O Concelho Federal Suíço [Governo], que estava energicamente contra esta proposta xenófoba, afirmou em nota oficial: que "respeita a decisão. Portanto, a construção de novos minaretes na Suíça não é mais permitida". E os Verdes vão apelar para o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos para impedir que a lei ente em vigor – o Tribunal tem jurisdição sobre a Suíça porque este Estado ratificou a sua Convenção (em 28Dez1974) .

A realidade suíça é muito complexa para o nosso olhar, nomeadamente devido ao seu sistema Federal e de Democracia Semi-directa. Contudo este acontecimento na Europa, embora não na União Europeia, é mais um alarmante sinal da penetração popular do discurso da Direita xenófoba. Este discurso encontra nos islâmicos e noutras minorias o bode expiatório: o culpado da criminalidade e da crise. A Direita explora assim os medos e anseios populares.

Retomando a ideia de neutralidade, recordo que este Verão a jogadora de basquete Sura Al-Shawk, de 19 anos e origem iraquiana, foi proibida pela Associação Suíça de Basquete de usar o hijab, lenço islâmico [que lhe tapa (apenas) os cabelos]. O argumento para recusa de atender ao pedido da equipa de Sura para que ela usasse o hijab no campeonato regional suíço foi baseado nas regras internacionais do desporto: que exigem que o desporto seja neutro(!).

A proibição destes “faróis religiosos” na Suíça, como aquela proibição do véu em França, só vai acender fúrias fundamentalistas e humilhar a liberdade individual e religiosa. A Direita só quer extremar posições neste plano: entre um “Nós” e o estrangeiro simbolizado no islâmico, escondendo a origem real/material dos problemas. Sobre os neutros e a neutralidade que tanto proíbe véus, em nome do laicismo, por um lado, como fecha os olhos à mutilação genital feminina, em nome do multiculturalismo, por outro… Sobre esses neutros, digo que defender a Civilização do Progresso contra todas as barbáries (barbáries que incluem o capitalismo interesseiramente tolerante e o fascismo islâmico) e no respeito pela diversidade: é tomar partido. Sobre essa neutralidade presunçosamente asséptica, apetece-me ler  Dante na citação equívoca de Kennedy: "Os lugares mais quentes do inferno são destinados aos que, em tempo de grandes crises, se mantêm neutros."

 

A Comuna 33 e 34

A Comuna 34 capa

A Comuna 34 (II semestre 2015) "Luta social e crise política no Brasil"EditorialISSUUPDF

 capa A Comuna 33 Feminismo em Acao

A Comuna 33 (I semestre 2015) "Feminismo em Ação"ISSUU | PDF | Revistas anteriores

 

Karl Marx

 

 
 

Pesquisa


Newsletter A Comuna

cabeca_noticias

RSS Esquerda.NET