Quem defendemos? Versão para impressão
Terça, 27 Setembro 2011

 

pobreza

Havia há pouco tempo quem ainda dissesse que a luta de classes era coisa acabada, teoria que ficara no passado, que o capitalismo reinante tinha fulminado esse tipo de relações. Estavam enganados, com o engano comum de manobradores de opinião e de quem se esquece de analisar a dialéctica das relações na economia.

A cada dia que passa, os governos europeus mostram que afinal não se esqueceram da luta de classes. A burguesia sabe desencadeá-la e os governos sabem bem como esmagar o proletariado. Não há outra coisa nesta austeridade autoritária que não seja luta de classes!

Note-se que os impostos e os cortes no rendimento afectam os rendimentos do trabalho e não o do capital. Note-se que se fala abertamente em esmagar os custos do trabalho; em baixar impostos a empresas; em pagar a empresas para colocar desempregados a estagiar; em vender a saldo sectores empresariais do estado que são rentáveis. Quem ganha? É o capital. Ainda que a burguesia se divida perante a crise e que existam fissuras abertas desse lado da barricado, os governos desta Europa protegem os interesses da burguesia. A burguesia que promove a crise, que incentiva a crise, que especula na crise, que acumula e concentra a pretexto da crise.

Usam as desculpas de sempre: da inevitabilidade das medidas. Que se fosse como eles queriam, a coisa seria muito diferente... Completa mentira! É exactamente como querem. Estão a jogar para a sua classe e a desencadear uma agressão generalizada à outra classe. Defronta-se capital e trabalho; burguesia e proletariado. Se não fosse pelos interesses de classe, onde cabe, por exemplo a facilitação do despedimento? Não tem nada a ver com o défice nem com a dívida! Onde cabe a redução da indemnização por despedimento? Não tem nada a ver com as desculpas esfarrapadas que utilizam para enganar o povo!

Apetece dizer “É a luta de classes, estúpido!”. E quem não perceber que, ou se toma um lado ou outro, corre o risco de ficar a defender a salvação nacional e cair na defesa da burguesia. Convém que a esquerda não caia na esparrela! Os discursos de salvação nacional são idealismos para utilizar o proletariado como carne para canhão, como força da frente para os interesses da burguesia. Os discursos da salvação da economia pela economia, sem perspectivas de classe, é o suicídio em massa dos sempre explorados e de tantos desapossados.

Vem isto a propósito de algum debate que se tem feito em torno da saída do Euro e das opiniões manifestadas... Vemos em primeiro lugar que existem opiniões de direita e de esquerda a defender a saída de Portugal da zona euro. Mas tanto umas como outras parecem esquecer aquilo que há muito a esquerda descobriu: na economia existem pessoas dentro.

Muitas destas opiniões deixaram emaranhar-se nessa esparrela argumentativa que é a da salvação nacional. Esqueceram que dentro da 'nação' também há classes em confronto e que, se a algumas vale a pena a mobilização em torno dessa salvação, a outras essa salvação custará a vida.

Dizem-nos: se sairmos do Euro os próximos dez anos serão terríveis, mas depois a economia portuguesa pode começar a recuperar. Dizem-nos que o grande ganho é reganhar instrumentos de valorização/desvalorização de moeda... E o que não dizem?

Os salários, pensões, subsídios... terão uma desvalorização estimada na ordem dos 30% (o UBS estima 60%); a dívida soberana aumentará; como importamos 60 a 70% do que comemos, os produtos essenciais sofreriam um aumento na mesma proporção da desvalorização do salário. Ou seja, as pessoas perdiam duas vezes no seu salário. Temos uma dependência energética brutal do exterior, o que quer dizer que a energia sofreria um enorme aumento...

E tudo isto para quê? Não estimula a criação de empregos, porque o tecido industrial português importa 60% do que produz, por isso, toda a conjuntura seria penalizadora para a indústria. Dizem que as exportações beneficiariam. Mas o que se exporta? As exportações representam muito pouco nas contas de Portugal...

O cenário seria devastador... Mas haveria sempre quem ganhasse: a burguesia veria ser brutalmente desvalorizada a mão-de-obra, o que permitiria o aumento da exploração por via do esmagamento dos custos do trabalho. A pequena burguesia exportadora ficaria também agradecida... Mas o povo que seria afogado na miséria e na fome não o ficaria tanto assim, estou certo...

Dizem-nos que fora do euro os pacotes de austeridade não continuariam... Será que acreditam mesmo nisso, quando a própria saída do euro representaria uma austeridade sem precedentes? quando depois da sáída teriamos dívidas ainda maiores, consequência da desvalorização da moeda? E será que acreditam mesmo que se sairmos do euro acabamos com a luta de classes? É que essa seria a única forma de acabar com a austeridade da burguesia. Ou isso, ou impondo a austeridade do proletariado sobre a burguesia.

Quando debatemos, é bom que não esqueçamos de que lado estamos e quem defendemos. Os socialistas não podem assinar por baixo de uma declaração de agressão generalizada ao seu povo. Os socialistas não abandonam os trabalhadores à sua desgraça e miséria!

Moisés Ferreira

 

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