Resposta a um CDS que se identifica com Israel Versão para impressão
Sexta, 27 Fevereiro 2015

cartoon israel. vieiraApesar dos crimes e massacres do governo israelita...

 

Artigo de Carlos Vieira e Castro

 

Num tempo em que (res)surgem na Europa atentados contra judeus,  muçulmanos e cartoonistas, nós, portugueses, que herdámos os genes e a cultura de judeus e árabes, devemos ser os primeiros a não deixar passar o intolerante contrabando ideológico que abre as portas ao fascismo.

Francisco Mendes da Silva (FMS) é um jovem advogado (filho de um amigo meu com o mesmo nome e profissão) que, em representação do CDS/PP, escreveu, no último número do Jornal do Centro, um artigo vituperando contra o Bloco de Esquerda por ter afixado, na fachada da sua sede em Viseu, um cartaz "equiparando Israel ao Terceiro Reich". Como o próprio FMS esclarece,  trata-se de um cartoon, logo, tem de ser visto como tal, como uma caricatura que distorce a realidade para acentuar ou ridicularizar defeitos ou erros do visado. O problema de FMS é que não vê grande deformação na imagem de Israel. Diz ele: "Com todos os erros – e eventuais crimes – cometidos por Israel (...) um Estado obrigado desde o nascimento a defender-se de todos os seus vizinhos (e que, proporcionalmente ou não, costuma actuar para evitar ou responder a ataques do inimigo) (...) Israel é o único país da região com todos os valores civilizacionais que por cá prezamos (...)".

Vejamos, então,  os valores que FMS preza e comunga com Israel: Em 15.04.2002 reuniram-se em Viseu, representantes das organizações distritais do PS, PSD, PCP, BE e Helder Amaral, da Comissão Política de Viseu do CDS/PP, que assinaram o texto "Pela Paz na Palestina! Dois povos, dois estados",  convidando os viseenses a subscreverem um abaixo-assinado, a enviar à delegação da ONU em Lisboa, ao P.R., ao embaixador de Israel e ao delegado em Lisboa da Autoridade Palestiniana, onde se lia:

"(...) Condenamos o terror levado pelo Estado de Israel contra as populações civis indefesas, matando, prendendo indiscriminadamente homens e crianças (dos 15 aos 65 anos), torturando, destruindo habitações, bombardeando campos de refugiados (desde a declaração unilateral do Estado de Israel, em 1948, que há milhares de palestinianos a viver em campos de refugiados, gerações atrás de gerações), impedindo o auxílio de associações humanitárias (...)". Exigia-se: "O fim imediato da agressão israelita e do terrorismo contra o povo judeu" e "o cumprimento das várias resoluções da ONU, consecutivamente ignoradas por Israel, que desde 1947 determinam a constituição de dois estados, um judaico e outro palestiniano, a retirada das forças armadas israelitas dos territórios ocupados pela força, o desmantelamento dos colonatos israelitas em territórios ocupados e o fim da deportação dos palestinianos das terras onde vivem há mais de 2 mil anos (ainda antes da diáspora judaica)."

Nem todos os israelitas e judeus comungam dos "valores civilizacionais"  de FMS:  Rivka Mitchell, atriz israelita, em 1998: "Já não suporto mais ver a injustiça que é feita aos árabes. Todo o tipo de escumalha vinda dos EUA desembarca dos aviões e passa à ocupação de terras que reivindica como suas."

Erich Fromm, notável sociólogo e filósofo americano, judeu (1900-1980): "Se todas as nações reivindicassem subitamente os territórios dos seus antepassados de há dois mil anos, o mundo tornar-se-ia um manicómio...".

B. Yehoshua, um dos mais reputados romancistas de Israel (Público,11.08.2008): "As terras palestinianas são confiscadas ilegalmente. Os colonos judeus agem à margem da lei e repetem actos de provocação, ferindo palestinianos, mas raramente incorrem em quaisquer sanções penais".

Michel Warschawski, jornalista e pacifista de Israel (20.07.2014): "A violência actual é o resultado de uma fascização do discurso político e dos actos que engendra: são já inumeráveis as concentrações de pacifistas e anticolonialistas israelitas atacadas pelos capangas de direita. Os militantes têm cada vez mais medo e hesitam expressar-se ou manifestar-se, e o que é o fascismo senão semear o terror para desarmar aqueles que considera ilegítimos? Num cenário de racismo lato e assumido, de uma nova legislação discriminatória contra a minoria palestiniana de Israel (...), o estado hebreu está a afundar-se no fascismo."

Noam Chomsky, célebre linguísta dos EUA, de origem hebraica, citando um relatório da ONU: "As crianças palestinianas em Gaza sofrem imensamente (...) pelo regime de desnutrição imposto pelo bloqueio israelita. Quando Israel está em fase de "bom comportamento", mais de 2 crianças palestinianas são mortas por semana – um padrão que se repete há 14 anos".

Eyad Sarraj, 64 anos, psiquiatra em Gaza, ex-pacifista (Público, 26.01.2009): "É impossível ter paz com um sistema racista, de "apartheid" (...). Os judeus trouxeram tanta dor do Holocausto e estão a projectar isso nos palestinianos, um caso de paranóia".

Massacre de Gaza, 2009: 1.387 mortos palestinianos, mais de metade civis, 400 crianças. 13 mortos israelitas. A Human Rights Watch, a Amnistia Internacional e a Cruz Vermelha acusaram Israel de crimes de guerra ao usar armas proibidas, como o fósforo branco, contra civis.

Massacre de Gaza, 2014, que durou cerca de dois meses, segundo a ONU: 2.130 mortos palestinianos, 77% de civis, incluindo 450 crianças. Mais de 2.500 crianças feridas. Três civis israelitas e 64 militares mortos.

1982, 2002, 2009, 2014, se isto não é genocídio...

Malak al-Kahatib é uma rapariga de 14 anos que tem um poster de C. Ronaldo no quarto, condenada a 2 meses de prisão e a uma multa de 1300 euros, por ter atirado pedras  a soldados israelitas que prendem 700 crianças por ano, submetendo-os a torturas físicas e psicológicas (a tortura é legal em Israel). Aumenta o número de israelitas que se recusam a servir o exército nos territórios ocupados. Deputados árabes israelitas são expulsos do parlamento por defenderem os direitos humanos.

Deixo a conclusão a António Louçã, historiador: "O sionismo e o nazismo não são irmãos gémeos. Mas a guerra em curso tem sublinhado de forma dramática alguns paralelos entre ambos. (...) A limpeza étnica que o sionismo realiza contra os palestinos é em tudo semelhante à limpeza étnica que o nazismo realizou nos anos 30 contra os judeus, quando ainda não era evidente que iria dedicar-se a exterminá-los. (...) A "lei do regresso" foi comparada com as leis de Nuremberg por intelectuais israelitas (...) alguém que nasceu longe e nunca conheceu o país pode ter o direito a vir instalar-se nele expulsando pela força alguém que aí nasceu e construiu a sua vida. Com um critério racista, os nazis encorajavam a vinda dos alemães do estrangeiro para ocuparem o lugar dos judeus a expulsar. Com um misto de critérios raciais e religiosos, os sionistas encorajam a vinda de judeus residentes no estrangeiro para ocuparem progressivamente o lugar dos palestinos. Os colonatos são actualmente um monumento póstumo ao nazismo construído à sombra da Estrela de David".

Por isto tudo o meu pobre cartoon está acompanhado por dois mestres: António, no Expresso, após o massacre de Sabra e Chatila, parodiou uma célebre fotografia de nazis no "ghetto" de Varsóvia (Grande Prémio do Salão Internacional de Cartoon de Montreal),  e  André Carrilho, no DN de 3.08.2010, desenha a "evolução das espécies",  uma vítima dos nazis a transformar-se em fundamentalista judeu e a seguir em carrasco de palestinianos que mal se defendem.

Caro FMS: Basta de 67 anos de ocupação e humilhação. Palestina Livre!

Carlos Vieira e Castro

publicado originalmente no Jornal Via Rápida, 19.02.2015

 

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