O Racismo na Luta de Classes Versão para impressão
Terça, 29 Janeiro 2013

 

racismoO secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos, surpreendeu toda a gente quando em plena manifestação dos professores (dia 26 de Janeiro), no decorrer do seu discurso, caracterizou Abebe Selassie, chefe da missão do FMI para Portugal, como o "Rei mago escurinho". O discurso do líder sindical foi ouvido por cerca de 40 mil pessoas mas facilmente tornou-se viral através das redes sociais e acabou por ser comentado por um número muito maior de internautas. A polémica instalou-se com a caracterização, do etíope que comanda o FMI em Portugal, e a discussão gerada abriu caminho para aprofundarmos ideologicamente o preconceito e a descriminação.

Marx escreveu em tempos que existem dois factores que aplicariam a vontade iminente de uma revolução socialista na sociedade: o antagonismo de classe e a causa comunista. Tínhamos assim o problema, a supremacia da burguesia que continuava a fazer do operário uma mera mercadoria; o meio de resolução desse problema, a revolução socialista; e por fim tínhamos a solução, a causa comunista. Porém a equação não é tão linear assim e Marx e Engels perceberam-no, era necessário agregar trabalhadores, consciencializa-los e reforça-los através de uma classe, era prioritário tornar o combate dos operários político para que pudessem lutar lado a lado pela tão aclamada revolução socialista.

A burguesia via-se assim perante um grande fado, com este movimento natural dos operários e um sistema tão falível como o capitalismo não havia grande esperança. A organização social capitalista tornava impossível a sobrevivência da classe burguesa, já que esta continuaria a explorar a classe dominada, fazendo com que a pobreza fosse mais rápida do que a população e a riqueza, deixando assim de conseguir assegurar a sobrevivência do proletariado. Deste modo estaríamos perante uma classe que alimentava o escravo em vez de se alimentar dele.

A tendência social era clara, no entanto ao longo dos anos o capitalismo foi tentando esquivar-se ao seu destino, caiu vezes sem conta, condenou famílias, abriu páginas da história mundial, mas mesmo assim continuou a segurar-se, criou limites para a exploração do proletariado, descobriu a protecção mínima necessária para assegurar que podia continuar a alimentar-se dele e não a alimenta-lo.

A classe burguesa foi sobrevivendo, mas estes remendos apenas garantiam um menor risco do sistema falir e nada faziam quanto ao outro factor condenatório da própria classe. O proletariado continuaria a ter o poder de se associar e de reivindicar transformação social. No entanto, o preconceito e a descriminação social já defendidos pela monarquia, foram herdados pela classe burguesa que alimentou intolerâncias como o racismo, a homofobia, etc. Esta propaganda gratuita à descriminação através de uma cultura dominante faz, inevitavelmente, com que a classe proletária se divida perdendo assim uma das suas grandes mais-valias, a união.

Desta forma o que a burguesia não conseguiu fazer a história fez por ela, através dos inúmeros preconceitos que séculos de civilização arrecadaram. A ideia da existência de uma raça superior foi uma dessas falhas da humanidade, certamente uma das maiores de sempre. Não houve até hoje, outra forma de descriminação tão amplamente divulgada e sustentada. Desde da política eugénia de Hitler ao Apartheid, da escravatura até ao sonho de Luther King, o racismo acabou por marcar anos e anos de história. Marcou o racismo e marcou toda a luta que se opôs a ele, luta essa que assumiu o papel importante de desmistificar preconceitos e combater a descriminação, luta essa que serviu a esquerda e reforçou o combate ao capitalismo.

Hoje o racismo como qualquer outra forma de descriminação, para além de atentar contra os princípios básicos da dignidade humana e de todos os direitos que lhe são adjacentes, serve os interesses políticos, económicos e sociais das classes dominantes. Esta é apenas mais uma razão para o derrotarmos em todas as suas facetas, em todos os seus momentos. Na Luta de Classes não há espaço para a descriminação racial.
"A Pátria do Trabalhador é o Trabalho."

André Moreira

 

 

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