As malhas que o sistema tece Versão para impressão
Sexta, 23 Novembro 2012

 

manipulacao

No livro 1984 de George Orwell, Winston Smith, o personagem principal, trabalhava no ministério da verdade e tinha como função alterar os relatos da história e dos acontecimentos, modificando a realidade na consciência dos cidadãos.

O livro de Orwell, centra muito mais do que a crítica aos estados totalitários e repressivos.  Apresenta, também, o perigo da anulação da liberdade conseguido pelo domínio de um sistema que se camufla para conquistar a hegemonia das ideias e dos comportamentos.

O poder de transformação do capitalismo baseia-se, em grande parte, nessa capacidade de camuflar e alterar a realidade na consciência da maioria da sociedade.

Vejamos, por exemplo, como se preparou a entrada da troika em Portugal. José Sócrates entregou a soberania do país, hipotecou o nosso futuro, invocando uma falácia: a ideia de que não existia dinheiro para pagar salários e pensões. Esta ideia  ganhou força entre os portugueses e o país atravessou um período eleitoral com a percepção que a troika vinha prestar ”ajuda” a Portugal. Falava-se dos mercados como seres divinos que se tinham irritado e nos empurravam para a inevitabilidade do empréstimo. Escondia-se o facto de os principais bancos portugueses, que fazem parte dos afamados mercados, terem negado apoio financeiro ao Estado.
Uma invenção engendrada para ludibriar a consciência dos portugueses, para que estes não exigissem conhecer a derrapagem orçamental, as contas, as falhas na gestão dos dinheiros públicos e para que passasse impune a corrupção. Apagava-se a memória dos assaltos com novo  e avultado assalto. O país perdeu soberania e ficou refém de uma engenharia financeira sem escrúpulos que encontra na divida dos estados uma forma engenhosa de alimentar o sistema.

No entanto, a tónica da proteção de salários e pensões depressa perdeu expressão.  A mentira teve perna curta e os índices do desemprego, os sucessivos cortes nos salários e pensões rapidamente evidenciaram o logro. Mas o monstro não dorme e não perde tempo. Agora a mentira desvia o passo e Passos desvia as atenções. O empréstimo usurário que tinha servido para “salvar salários”, transferiu os salários para o bolso dos credores para lavar a “honra” de Portugal. Mas afinal até podemos esquecer a honra em nome da “modernidade” que se conseguirá pela “reforma” do Estado. Venham os dinheiros da UE e a torneira dos despedimentos, que não pára de vazar, derramará um caudal ainda maior.

Passos chama de modernidade aos cortes que representarão a machada final no estado social, cortes que alguns, como Pires de Lima, já apresentam como inevitáveis. Querendo apagar a memória do tenebroso orçamento que nos apresentam para 2013, com mais uma brutal mentira: ou cortamos no estado ou apertamos mais a corda que vos sufoca, aumentando novamente os impostos.

Esta mentira justifica dois alvos essenciais. Primeiro, a lógica lucrativa do sistema que, por mais suicidário que seja, sabe que chega ao limite do experimentalismo no que respeita ao aumento de impostos. Assim, o estado corta no Estado, para engordar os lucros dos grandes grupos económicos, instrumentalizando a saúde, educação, segurança social.

Por outro lado, e mais significativo ainda, reduz-se a democracia reduzindo as funções do Estado Social. A democracia é, e sempre foi, a maior inimiga do sistema. Mas enquanto a hegemonia ideológica se manteve nos seus dominios a ameaça não era tão significativa.

Alcançámos verdadeiros tempos de mudança. A política do medo foi derrubada e há um Povo que se levanta reclamando dignidade, um Povo que já não acredita nos logros e na enxurrada de mentiras e exige nas ruas a vida que lhe roubam nos gabinetes fechados. Agora discute-se economia, quanto mais nos apertam mais aumenta o sentido crítico no que respeita a engenharia financeira.

Como pode o sistema reduzir esta ameaça? Reduzindo a democracia pela via da vulnerabilidade. Aumentando o desemprego, retirando apoios sociais, retirando à população o acesso à saúde e educação gratuitas.

O corte de 4 (ou mais) mil milhões de euros no Estado serve o propósito e não encontra oposição, nem na coligação PSD/CDS nem no PS. A alternância política não ousa questionar os dogmas que a divindade troika apresenta. Passos classifica de modernizar o que Seguro se dispõe a avaliar.

É por isso que o nosso papel, o papel da Esquerda, a Esquerda da alternativa, assume agora extrema relevância. A pior opção que poderíamos tomar era suavizar a história e ficarmos à espera daqueles que vêm no capitalismo suave um mundo cor-de-rosa.

Não é tempo de recuos ou meias palavras. Queremos derrubar o governo, queremos vencer a troika, queremos inverter a relação de forças.

Temos proposta política, económica e social, temos irreverência e estamos juntos com uma força popular que cresce todos os dias. A hegemonia ideológica está a alterar, por isso o nosso papel é reivindicarmos juntos daqueles que lutam pelos seus direitos. Não vamos permitir que nenhum Grande Irmão nos controle, não vamos permitir que criminalizem o nosso pensamento.

Nas ruas uma força maior cresce a cada dia, essa é a força da luta pela dignidade, pela liberdade, pelo respeito, pelos direitos sociais, por uma sociedade digna e real, a luta pela vida, a luta da Esquerda.

Odete Costa

 

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