Que nos diz a Grécia? Versão para impressão
Quarta, 09 Maio 2012

 

1. A União Europeia obrigou a Grécia ao enésimo plano de austeridade, plano que as autoridades monetárias e os gurus dos mercados de capitais, vide Finantial Times, Bloomberg, etc., fazem saber que é inútil para a especulação e incapaz de baixar a pressão sobre a dívida soberana grega. A bancarrota é uma pena suspensa.
2. O parlamento helénico decidiu sob chantagem numa clara violação dos tratados europeus e até do tratado que os governos UE ainda querem aprovar, na modalidade inter-governamental a 25 ,no que cuida ao "governo económico".
3. O que está no banco dos réus de qualquer justiça internacional é essa miserável humilhação da democracia grega tranformando o parlamento no notário dos "novos coronéis". A tragédia de um povo conduzido à precariedade completa e à indeterminação sobre o seu futuro. Não falem de cocktails-molotov quando há um país ocupado politicamente.
4. O plano do Merkosy não corresponde a nenhuma pulsão ideológica extrema, como se argumenta amiúde, mas ao invés de ser uma subjectividade política mais ou menos alterável trata-se do programa de ajustamento conservador pretendido pelo capital financeiro e pelas mais fortes burguesias europeias. A selvajaria de mercado visa o darwinismo bancário(consolidar e concentrar), a asiatização da mão de obra, a competição com o Pacífico. Tudo isto com autoritarismo crescente e apelos ao chauvinismo e mão dura.
5. Todos os governos são, até agora, sugados para este vórtice, incluindo o governo comunista de Chipre, um dos 27, sujeito a um programa de austeridade severo. Afinal, não muito longe do início do percurso austeritário dos seus irmãos de Atenas, apesar da base política que sustenta o executivo ser bem diversa.
6. A exclusão do euro, ou outro tipo de sanções coloniais, são encaradas como danos colaterais, que ao contrário do que muitos economistas previdentes dizem, pode muito bem acontecer pesem situações de contágio de banca internacional exposta a dívidas públicas e privadas incobráveis. A luta de classes e a rearrumação social na Europa que os conservadores preconizam não se detém em critérios de racionalidade, como muito bem se sabe.
7. A luta de massas sucessiva e a atenção internacional cindiram o PASOK (partido socialista). PASOK responsável pelo primeiro e seguintes acordos com a troika, incluindo este segundo resgate. Todos os partidos do arco troiquista têm importantes baixas, com dezenas de expulsões de deputados rebeldes. Na extrema-direita, direita e também nos socialistas. Tudo isto com eleições esperadas para Abril próximo. A própria realidade dos factos encarregou-se de demonstrar que o ódio popular à troika contamina todos aqueles que a ela se submetem.
8. A cisão do PASOK, Esquerda Democrática, que junta também um grupo procedente da SYRIZA, tem hoje o dobro nas sondagens que o próprio PASOK. O Partido Comunista e a SYRIZA (coligação de esquerda radical) exibem expectativas acima de 10% cada um. No total, as três formações creditam-se acima de 40% nestas pesquisas. São o activo de esperança do povo desesperado da Grécia, e com reais possibilidades de procurar a alternativa à capitulação do poder da praça Sintagma.
9. Uma eventual convergência de programa poderia ser eficaz na ruptura com a troika. É o ponto de unidade, já que ali ninguém tentou "desculpar" o partido socialista por ter assinado o memorando da troika. As tradições sectárias da esquerda grega não animam essa perspectiva, mas a situação é excepcional e a pressão da massa pode fazer milagres. Uma convergência de programa anti-troika não quer dizer, à partida, coligações de qualquer género por ventura deslocadas ou impraticáveis. Mas seria o Manifesto de uma libertação do regime dos credores com uma maioria social e política. Esse facto seria portentoso em toda a Europa e com larga significação. Sobretudo porque o espaço popular parte o centro com a força da esquerda. Ao contrário daqueles que acham que a esquerda se deve adaptar ao centro liberal.
10. Tudo isto indica, quer o agravamento da situação social, quer a mudança política em aberto, a obrigação das esquerdas europeias não apenas de solidariedade mas, sobretudo, a necessária radicalização contra o Tratado da ordem e a direcção conservadora. Ficar à espera de Hollande é a atitude típica de todos os que ficam à espera do Obama do momento. O agravamento das contradições no quadro europeu pode ter um detonador grego para acções populares muito marcantes. Essas é que são agentes da mudança, chamamo-las para referendo, o rosto do nosso NÃO só pode ser outra Europa.
11. Em Portugal, ver a lição grega, sem mecanicismos é certo, é ver quase tudo.

Luís Fazenda

 

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