Flagrantes da realpolitik Versão para impressão
Terça, 24 Abril 2012

povo1

O National Security Study Memorandum NSSM 200, conhecido como "Relatório Kissinger", tem quase a mesma idade da revolução de Abril e este documento dos E.U.A no ponto 30. ditava que “O Plano de Acção Mundial da População não é auto-aplicação e exigirá vigorosos esforços dos países interessados, agências da ONU e outros organismos internacionais para tornar mais eficaz. A liderança dos EUA é essencial”…

Estamos mergulhados numa encruzilhada mundial sem soluções; desde o médio-oriente, às ditaduras em Africa e a crise Europeia, provocada pela corrupção de capitais ao serviço da burguesia capitalista. A nova “desordem mundial”, alimentada pelo imperialismo americano com a cumplicidade da ONU, é a consequência da destruturação política, capitalista e de um xadrez com novas características, em especial nos países emergentes. Em África, os interesses neocoloniais promovem a disputa de riquezas minerais e metais preciosos que sustentam ditaduras, guerras e muitas vítimas. O Congo, país com muitas riquezas minerais é um forte exemplo dos conflitos por interesses; do Sudão ao Uganda e Serra Leoa, onde as crianças servem de soldados, disputa-se petróleo ou jazidas de diamantes; o grande drama humanitário prende-se com o genocídio do Darfur mascarado de confrontos tribais que assenta na venda de armas e no apetite pelo petróleo por parte da China, dos EUA e da Europa. Enquanto isso, indústrias do petróleo e da guerra, tomam de assalto o Ártico com o pretexto do “combate ao terrorismo”, ao mesmo tempo que aceleram o degelo daquela região, fruto do aquecimento global. Neste cenário de disputa, a Argentina despoletou os alarmes capitalistas, incrédulos pela coragem de Cristina Fernández de Kirchner de reestatizar a YPF à Repsol espanhola. A somar a este vol de face, temos em França os resultados de Melachon e Francois Hollande a contrapor ao resultado da extrema-direita de Marine Le Pen com os invariáveis discursos populistas.

Ainda no que toca a traduzir os reflexos da primavera Árabe, onde as politicas e os regimes autocráticos fomentaram a revolta juvenil, não podemos ficar indiferentes ao que se passa hoje no Médio Oriente e ao crescente avanço do Islamismo no seio da Europa e dos Estados Unidos que traduzem as preocupações xenófobas da extrema-direita que implora pelo fecho de fronteiras. Já no período da “Guerra Fria”, se percebia que outras disputas políticas fervilhavam no Médio Oriente, camufladas pelo combate comunismo / capitalismo. Muitas das guerras aconteceram por motivos religiosos, mas hoje com alguma clareza, percebe-se que os motivos são essencialmente imperialistas com denominadores económicos e geoestratégicos / militares. Em especial são os recursos naturais e os energéticos que estão na base das grandes manobras políticas internacionais. O apoio da China à ditadura militar de Myanmar é essencialmente pelo gás natural da antiga Birmânia; Aung San Suu Kyi, uma resistente da tenebrosa ditadura das baionetas, vai ter os EUA à espreita e obcecados pelo controlo energético.

A leste, Rússia, Ucrânia e Geórgia, trocaram acusações e mediram forças pelo petróleo e pelo gás à margem da Ossétia do Sul, Abkházia e do Kosovo, o paradigma perdido da reorganização de leste. A Rússia mostrou ser igualmente capaz, a par dos EUA, de violar o direito internacional para defender os seus interesses que, para além dos combustíveis, também passam pelo negócio das armas. A NATO, sob pressão dos Talibãs tenta segurar a contestação e teima em ficar no Afeganistão onde o narcotráfico é também o diapasão da corrupção a nível mundial, a par das ditaduras sul americanas.

Saddam Hussein foi o exemplo cabal dessa luta de interesses, assim, enquanto ajudou os EUA, nos anos 60, a combater os “comunistas” iraquianos e a lutar contra os “Ayatholas” do Irão foi considerado como amigo e armado pelos americanos, tal como com Osama Bin Laden, aliado dos americanos contra os soviéticos no Afeganistão e também armado pelos americanos. As execuções sumárias de Saddam e Bin Laden deram o mote ao assassinato político do ditador Khadafi “caçado” à traição… Estes três ditadores são o exemplo trágico das relações promíscuas dos mesmos com a U.E. Os EUA e hoje a Síria é outra encenação de um filme cujo desfecho os atores desconhecem…

Por cá, na Europa, assistimos a uma austeridade cega que nos pode conduzir à rutura, que só será possível inverter, se conseguirmos derrotar a direita liberal e conservadora que instiga o medo e promove as desigualdades através do euro-autoritarismo. Perante este status quo armadilhado e permitido pela ONU, o pacto orçamental que a U.E. impõe, afigura-se como mais uma medida medíocre mas terrível. Esta manobra deve ser combatida com a exigência de um novo tratado, referendado, no sentido de ser socialmente justo e economicamente equilibrado. Estagnados no conservadorismo orçamental, avança-se para a fragmentação social, sendo que os europeus sem luta estão condenados às políticas de direita, sustentadas na caridade. Os capitalistas sabem que os mendigos deixaram de lutar contra o mundo, já que foram entregues à sua sorte e paradoxalmente a burguesia que não os estima, é com a caridade que espia os seus pecados. Esta era a estratégia do personagem de Joracy Camargo (o mendigo) quando à porta da igreja agradecia, retribuía com um simples “Deus lhe pague”… Flagrantes da realpolitik …

Paulo Cardoso

 

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