Quando as pessoas tomam o seu lugar... Versão para impressão
Domingo, 20 Novembro 2011

 

Greve

Um dos grandes objectivos deste governo de direita PSD/CDS é a redução do custo do trabalho. Tem imposto diversas medidas neste sentido: cortar o 13º e o 14º mês, aumentar o número de horas trabalhadas com o mesmo salário, facilitar e embaratecer os despedimentos, etc... Vêm agora, bons  alunos da troika, defender a 'moderação salarial', que é uma espécie de gíria desta direita que quer dizer, traduzindo-se para a linguagem comum, 'corte salarial' no sector privado. E o sector público lá vai apanhar com mais austeridade: querem agora rever as tabelas salariais para, obviamente, reduzir novamente salários.

Eles dizem que temos que empobrecer para depois enriquecer. Bom, nessa lógica teremos também que morrer para ressuscitar. Ainda assim, parece mais seguro tentar evitar a primeira!

Eles dizem muito, mas temos percebido que pouco é verdade e muito é fraseado para evitar a revolta e para esconder os seus verdadeiros interesses. Eles trabalham para o FMI, para a banca e para o patronato que lhes exige mão-de-obra mais barata, trabalhadores mais miseráveis e estômagos mais vazios. Eles não são o governo de todos nós. São o governo dos interesses que destruiram o país e a economia; dos tubarões que têm vivido à custa do Estado e dos favores feitos com amigalhaços que se instalam em cadeiras de governação.

Eles são eles e nós somos nós. E como eles, gananciosos, achando-se poderosos, nos declararam guerra; nós, trabalhadores, desempregados, reformados, responderemos e tomaremos a nossa posição!

Aquilo que nos propõem é miséria e fracasso, é buracos e mais austeridade, é a bancarrota total. O seu modelo de desenvolvimento é o dos baixos salários, ainda mais baixos; é o dos trabalhadores sem direitos. É um modelo reflexo da estupidez e do pensamento esgotado. É um modelo de exploração e não de inovação que nos colocará no purgatório. Nem competimos com a mão-de-obra mais baixa e mais explorada; nem competimos com as economias que apostam na inovação e nos produtos de valor acrescentado. Portanto, não temos economia, não temos o que exportar, não temos nada, a não ser a bancarrota. É este o caminho que nos oferecem. Interessa saber à custa de quem e a favor de quem...

A grande preocupação deste governo tem sido, portanto, a redução do salário directo e indirecto; a grande preocupação dos governos europeus tem sido, tendo a dívida como bode expiatório, o fim do chamado estado social europeu. Quem sofre? Os trabalhadores, os desempregados e os pensionistas, que perdem poder de compra, que perdem segurança, que são mais explorados, que perdem direitos no trabalho e que se tornam, cada vez mais, mercadoria. E mercadoria cada vez mais barata! Quem ganha? O patronato que produz mais barato e que aumenta os seus lucros. Não precisa de investir nada! Nem de inovar! Nem de modernizar! Basta ter tudo como está, aumentar o horário de trabalho sem pagar mais por isso, reduzir salários e encargos sociais... e pronto... Aumenta os seus lucros de forma maravilhosa. Faz uma transferência directa dos bolsos dos trabalhadores para os seus!

Ora, este é o grande plano desta direita quase necrófaga para o país, para a europa, para o mundo. Dizem eles: “Olha lá, e se nós transferissemos a riqueza dos que trabalham para a fortuna dos que mandam?” A partir daqui encontraram um problema: “Como justificamos isso? A malta ainda se revolta...” E encontraram uma solução: “Dizemos que é pela economia nacional e a bem da nação; que todos temos que contribuir, a ver se a malta não se apercebe...”

Mas temos que nos aperceber! Aperceber do que realmente está em curso... Estão a mudar completamente os pratos da balança e a canalizar cada vez mais dinheiro para os patrões, para a banca, para onde já estão as fortunas... É esse o processo em curso.

Dizem que é pela economia nacional, mas esse argumento é um insulto! Quando se canaliza o dinheiro para os bolsos de meia dúzia de patrões tirando esse mesmo dinheiro aos bolsos dos que produzem, dos que criam a riqueza, isso não é economia nacional. É um roubo! Quando facilitam os despedimentos numa altura em que Portugal conhece 13% de desempregados, isso não é economia nacional, é uma violência planeada para reduzir o custo do trabalho! Quando aumentam o horário do trabalho, levando a que, na prática, se trabalhe mais um mês por ano (de borla, entenda-se), isso não é economia nacional... O termo técnico para aqueles que  trabalham sem receber nada pelo que produzem é escravatura!

Por isso, quando nos insultam com o argumento da economia nacional, nós dizemos, a economia nacional somos nós!

Nós, trabalhadoras e trabalhadores, que verdadeiramente criamos e produzem no país. Nós somos a economia nacional. Somos nós, funcionárias e funcionários públicos, que suportamos grande parte dos sectores fundamentais da sociedade. Nós somos a economia nacional. Somos nós, reformadas e reformados que trabalhamos uma vida inteira, sem descanso e que produzimos a riqueza do país durante uma vida. Nós somos a economia nacional! Somos nós, desempregadas e desempregados, que não temos presente nem futuro; que queremos trabalhar e que somos tratados como mercadoria descartável. Nós somos a economia nacional! Nós mandamos na economia nacional, porque somos nós que produzimos, porque somos nós que a fazemos!

Medidas que apenas vão concentrar a riqueza que nós produzimos nos bolsos dos nossos patrões não são medidas de economia nacional. São assaltos, escarros de ganância. E não permitiremos! Governos que apenas tratam dos interesses desses patrões, dessas fortunas, desses banqueiros, não são governos nacionais, são uma quadrilha que é preciso combater!

A greve geral não é nem o início nem o fim em si mesma. É um caminho e um instrumento. É um momento em que dizemos: sem os trabalhadores não há produção, não há economia, não há país. Nós somos a economia nacional. Esta greve será, no dia 24 e no futuro, também uma greve política. Ela dirá: 'Esse governo e esses partidos, PSD e CDS, não querem saber do interesse nacional. Querem saber dos seus interesses e dos seus patrões. Não é um governo nacional. Não é nada!. Declarou-nos guerra e nela só há um caminho: a derrota desses exploradores, desses traficantes de medidas da troika a quem pagam comissões e juros de 30 mil milhões.

Faremos a nossa parte. Tomaremos o nosso lugar na rua. Tomaremos o nosso lugar na greve. 24 de Novembro é nosso!

Moisés Ferreira

 

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