Desenvolver o marxismo Versão para impressão
Terça, 18 Janeiro 2011

jomortagua36udp

É bom estar aqui com todos vós, amigos e camaradas, é bom ter estes momentos de encontro em que celebramos aquilo que nos une, o ideal partilhado, mas também a força e vontade colectivas de o concretizar.

Porque se estamos aqui hoje, 36 anos depois e ainda jovens, a comemorar o aniversário da Associação Política UDP, é porque sempre soubemos galvanizar essa força, e porque da vontade soubemos fazer projecto; porque contra os desencontros da história construímos junto com outras forças da esquerda, este enorme movimento de transformação que é o Bloco de Esquerda.

E devemos sentir-nos orgulhosos do projecto que construímos: orgulhosos por termos estado lá, desde o primeiro momento, por termos forjado com a nossa militância e com a história da nossa organização, por termos forjado com o nosso contributo ideológico, marxista, um partido de esquerda que é hoje uma referência a nível europeu e que conta com uma ampla base social de apoio nos trabalhadores e na sociedade portuguesa.

O nascimento do Bloco é certamente o passo mais decisivo da nossa história, mas o percurso e o destino desta organização contam-se através de muitas histórias, individuais e colectivas, de muitas vidas, de muitas lutas, de algumas vitórias e de derrotas também.

É longo e acidentado, o caminho que nos trouxe até aqui, sabendo que as nossas conquistas foram sempre conquistas do povo. E que com tudo o que entretanto mudou na nossa organização, o nosso objectivo se mantém intacto: a construção de um outro projecto de sociedade, a construção de um socialismo que se eleve como alternativa para uma grande maioria social.

A UDP é uma corrente comunista concebida na oposição à ditadura e à guerra, mas é verdadeiramente filha da Revolução de Abril e do período revolucionário se lhe seguiu, quando um jovem grupo de comunistas se lançou na criação dum partido político cujo programa era o poder popular e o socialismo. Durante todo esse período, a UDP abriu caminho e deixou a sua marca na História. Teve um papel importante na radicalização das conquistas de Abril. Esteve nas nacionalizações, esteve na reforma agrária, esteve na luta pela conquista de direitos sociais, foi a voz de muitos milhares de trabalhadores.

Pela sua militância e acção política, esta organização ganhou mérito na rua, nas ocupações, mas também no parlamento. A UDP foi produto das aspirações populares que a liberdade trouxe e na Assembleia Constituinte de 76 também levantou o braço para aprovar a concretização dessas aspirações.

Neste combate pelos ideais de libertação da exploração, do poder popular e do socialismo, contra as forças conservadoras e reaccionárias, estiveram muitos camaradas. Muitos ainda estão aqui connosco, mas hoje também é um dia de homenagem a todos os que deram a vida por este projecto, como o Luís Caracol.

Essas lutas passadas são uma memória viva e actuante nas lutas de hoje, e fazem também elas parte dum caminho de aprendizagem que nos trouxe ao Bloco de Esquerda. Foi este mesmo caminho que nos levou de partido a Associação Política.

Neste processo, a UDP deixou de ter papel na organização da luta popular enquanto partido. O nosso partido é o Bloco de Esquerda. A única razão da UDP é o marxismo.

Enquanto marxistas estamos conscientes de que o partido não é um objectivo, mas um instrumento da luta pela transformação social. Se do tempo concreto nascem e se transformam as formas de organização, era tempo de a UDP se constituir em corrente marxista de pensamento dentro do Bloco Esquerda.

Acantonados num partido de poucos mas puros perderíamos todo o potencial do debate com outras correntes da esquerda, perderíamos toda a força que se pode acumular no movimento político empenhado na construção da Esquerda Grande. Só como corrente ideológica consciente do seu papel num partido plural é que somos úteis ao povo e à sua luta.

O nosso contributo enquanto corrente de pensamento ideológica é singular e inconfundível. No desempenhar dessa tarefa de aprofundar a teoria marxista, desenvolvemos os argumentos que nos demarcam do trotskismo e de qualquer tipo de reformismo.

Fizemos a análise crítica do estalinismo, rejeitando a apropriação da revolução por um punhado de burocratas e a repressão destes sobre o povo; ousámos desenvolver superar as teorias Lenine, sobre o proletariado, o partido, o Estado e o imperialismo.

Desenvolvemos ideias muito próprias sobre a luta de classes, processo histórico, a degenerescência da revolução, e a democracia socialista. Isso distingue-nos de outras correntes à esquerda.

Recusámos o centralismo democrático ou qualquer forma de imposição de posição. Defendemos um Estado de Direito Socialista, com pluralismo partidário em que a democracia não seja apenas uma bandeira.

Enquanto corrente marxista, o nosso papel é ocupar e projectar um espaço ideológico dentro da esquerda. Temos hoje condições de influenciar os sectores mais avançados da luta e também de formar e inspirar os jovens revolucionários.

Porque estamos na primeira fila de combate ao neoliberalismo, um modelo que sofreu uma derrota ideológica mas que se impõe como política dominante. O neoliberalismo precisa de governos cada vez mais autoritários, que dividam os povos, que fomentem medo social e da guerra e que em nome da sua sobrevivência põem na gaveta a paz e a democracia.

Mas neste combate estamos melhor do que estávamos há 10 anos. A contestação ao neoliberalismo ganhou uma maior amplitude social, que só pode acumular forças na construção de uma grande frente com todos aqueles que se opõem à política liberal, que quer a destruição do Estado social, que provoca a crise, que impõe a austeridade e retira direitos à maioria para o benefício de poucos.

O nosso papel ideológico deriva também da capacidade de resgatar o socialismo no combate das ideias. O muro de Berlim também nos caiu em cima, quando no pós 89 as populações começaram a apoiar o neoliberalismo e o socialismo passou a ser entendido como um ideia ultrapassada.

Foram tempos duros para a esquerda, mas em que a UDP não capitulou nem abandonou a perspectiva marxista. A escolha era entre morrer de pé, a achar que a realidade viria ter com a teoria, ou usar da inquietude revolucionária para procurar responder aos novos tempos.

O conjunto de ideias que nasceu desta escolha é hoje atractivo para quem acha que Estado rima com direitos individuais e que socialismo rima com democracia. Pão e liberdade não podem andar de costas voltadas.

Isto é que é o importante para a UDP, as nossas ideias e a sua divulgação. Assim nasceu a Comuna, em Junho de 2003, como veículo necessário para cuidar de contribuir para a afirmação ideológica da UDP; para aprofundar respostas teóricas do marxismo; para armar os militantes e quadros para darem contributos cada vez mais valiosos na intervenção política e no apoio ao Bloco de Esquerda.

A nossa corrente não funciona como um partido dentro do partido, não serve para preparar reuniões dentro do Bloco. Tirem-lhe a Comuna e a formação ideológica e a UDP terá desaparecido.

Se antes éramos loucos por defender o socialismo, hoje estão em apuros os académicos que defendiam a infalibilidade do mercado. Perderam a contenda ideológica frente a um duro golpe da realidade. O mercado viu-se obrigado a recorrer ao Estado para o salvar da crise.

Depois da queda do muro, o combate anti-liberal é uma batalha decisiva na luta contra o capitalismo e um capítulo necessário na construção dum socialismo que valha a pena como alternativa.

Em 36 anos, mudaram os contextos e as formas concretas da nossa luta. Mas permanece o nosso compromisso com o lado dos oprimidos e dos explorados.

Reli ontem no livro do nosso 30º aniversário que a UDP sempre pautou a sua análise pela perspectiva de que o inimigo principal do seu combate é o capital e, no tempo da sua vivência e na esfera política, o imperialismo. Que a UDP sempre entendeu o processo de transformação social como um processo contraditório em que a questão determinante é a luta de classes. Que a UDP sempre visualizou como objectivo da luta o socialismo.

Fiéis aos nossos compromissos, estamos determinados para os combates de hoje, alargando a frente de combate para a derrota do neo-liberalismo e abrindo espaço para novos rumos de liberdade para os povos.

Comemorar o aniversário da UDP não é só homenagear um passado, é convocar para o futuro. É chamar-vos a todas e a todos para este combate. Porque no fim destes trinta e seis anos sentimo-nos jovens, como no começo.

Intervenção da presidente da UDP Joana Mortágua

no jantar do 36º aniversário.

 

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