O campeão da pobreza Versão para impressão
Terça, 18 Janeiro 2011

A pobreza tem sido tema de pré-campanha e já de campanha para as eleições presidenciais de 2011 não por medidas de combate inovadoras propostas pelos candidatos mas sim pela vontade do candidato Cavaco Silva querer ser reconhecido como o campeão da luta contra a pobreza.

Tendo sido o Primeiro Ministro que mais anos governou em Portugal, residente da República desde Janeiro de 2006 e um homem que, segundo o próprio, desde o 25 de Abril de 1974 se preocupa com a pobreza, tem um fraco currículo. Na verdade para além de se associar a diversas iniciativas que terceiros promovem para combater a pobreza e discursos de campanha não se lhe conhece iniciativa própria no combate à pobreza.

A corrida de Cavaco Silva ao título tem passado por um desenrolar de visitas e declarações de apoio a diversas iniciativas de instituições de solidariedade social e de empresas sendo algumas de puro espectáculo de entretenimento como por exemplo a 'aparição' no casamento de duas pessoas que já viveram como sem-abrigo.

Recentemente num evento no Casino Estoril Cavaco Silva 'apadrinhou' uma campanha promovida pela Associação de Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal. Não querendo discutir os méritos da campanha não posso deixar de notar a oportunidade de Cavaco Silva receber o apoio público à sua candidatura do presidente da associação em pleno discurso de apresentação da campanha pelo Direito à Alimentação. Do mesmo modo notar que, ao ceder o Alto Patrocínio, Cavaco Silva concorda com os promotores da campanha, que defendem «o direito a todas as pessoas a que sejam criadas as condições que lhes permitam alimentar-se adequadamente pelos seus próprios» mas que se virem este direito negado não há problema porque passam a ter o direito a «ser objecto de uma atenção especial, no que toca ao direito à alimentação». Aliás a campanha só faz sentido porque o direito à alimentação não é exercido por falta de oportunidades. O principal combate à pobreza é a defesa de direitos e não "atençõezinhas". Não é tarefa de um Presidente da República matar a fome mas garantir o cumprimento de direitos e neste caso o direito a todos os portugueses terem condições de por meios próprios alimentar-se adequadamente. O direito à alimentação é mesmo isso, um direito e um Presidente que não consegue salvaguardar os direitos é um Presidente falhado.

Cavaco Silva, em campanha por Setúbal, quis também associar-se a D. Manuel Martins, antigo Bispo de Setúbal, mas devia ter mais respeito e melhor memória. Em Janeiro de 2010 disse D. Manuel Martins que nós começávamos o ano cheios de medos: «medo das guerras malditas e medo da possível falta de pão à nossa mesa, mercê de um sistema económico comandado em boa parte por um capitalismo selvagem, em que o homem já conta menos que a peça da máquina.» Nunca Cavaco subscreveu estas palavras e só pelo prestígio local e nacional de D. Manuel Martins quis juntá-lo à sua galeria de pessoas cujas boas acções reivindica na luta pelo título.

Em 2011 os medos do ano passado são realidades incontestáveis e Cavaco Silva representa e, se não for derrotado, continuará a representar este sistema económico em que a peça da máquina vale menos que os mercados e a vida humana já nem conta. Mesmo que Cavaco Silva tenha patrocinado todas as campanhas e actividades de IPSS e ONG que lutam contra a pobreza, mesmo que, como muitos portugueses, tenha arredondado as contas no supermercado, comprado o CD da Leopoldina, entregue géneros ou vales ao Banco Alimentar jamais será o campeão da luta contra a pobreza.

A solidariedade e a mobilização que os portugueses demonstram nas campanhas de solidariedade é extraordinária e o trabalho dos voluntários e dos trabalhadores de instituições e organizações que no terreno lutam contra a pobreza é fabuloso tendo em conta os cortes orçamentais e as políticas implementadas por Sócrates, e louvadas por Cavaco Silva, que limitam os recursos e financiamentos disponíveis. Cavaco Silva deve envergonhar-se da sua ambição de campeão da luta contra a pobreza perante o exemplo dos portugueses.

Se a escolha do Presidente da República fosse um combate pelo título de campeão de luta contra a pobreza Cavaco Silva nem sequer se devia qualificar mas a verdade é que a publicidade do candidato Cavaco Silva parece dar-lhe o cinto da vitória à partida. Mas quão mais justa a causa mais vale a pena lutar e por isso precisamos de insistir em denunciar as acções concretas de Cavaco Silva e fazer opções.

Precisamos de um Presidente da República que garanta a defesa dos nossos direitos, que proteja a Constituição onde esses direitos estão inscritos, precisamos de um Presidente que não hesite entre um capitalismo selvagem e uma sociedade mais justa e solidária. Voltemos por isto ao combate à pobreza, à luta por direitos. E na defesa do emprego, da saúde pública, da escola pública e certamente do direito à alimentação e à dignidade temos um opção para enfrentar o detentor do título e a nossa opção é Manuel Alegre.

Manuel Alegre é um homem que nos convida à luta. Alegre lembra-nos que nada está decidido e que em democracia não há vencedores antecipados. Manuel Alegre propõe-nos um contrato onde garante trazer outra economia, outra estratégia, outro paradigma. Manuel Alegre não quer ser um campeão. Alegre não nos oferece mais que ele, não rouba créditos alheios e dá provas de uma vida de luta. Pessoalmente admiro a convicção de ideias, a defesa intransigente que ainda como deputado fez dos serviços públicos e continua a fazer. Porque temos direito à esperança, porque temos direito a participar, porque temos direito a ser livres, porque é preciso escolher eu votarei em Manuel Alegre.

Ana Cansado

 

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