Cuba, a suprema ignorância do povo Versão para impressão
Segunda, 03 Janeiro 2011

Cuba foi, neste ano de 2010, alvo de um terramoto ideológico. Os alicerces que construíam o Estado “Socialista” ruíram. Ante a incredulidade geral soube-se de grandes “passos atrás” dos quais o despedimento de pelo menos 500 mil funcionários públicos é o mais sonante.

A dificuldade que muitas correntes de esquerda manifestaram em analisar o regime cubano é patente num recente artigo do prestigiado académico argentino Atilio Boron. Atilio defende a criação de um “Plano Marchall” que junte 10 mil milhões de dólares para apoiar as reformas cubanas. Atilio coloca dois argumentos, como fortes, para que os países da região construam esse fundo. O primeiro é a solidariedade cubana no apoio médico internacional. O segundo é um “valor moral”, pois “se Cuba tivesse capitulado aos EUA isso geraria um tsunami direitista que arrasaria esta parte do mundo [América Latina] e graças a Cuba os nossos povos evitaram tamanha catástrofe”.

Atilio Boron interroga-se ainda se “teria sido possível a transcendental mudança político-ideológica materializada no ascenso e consolidação de Hugo Chávez, Evo Morales e Rafael Correa” (…) ou até “o auge da muito moderada centro-esquerda da Argentina, Brasil e Uruguay”? “Estes avanços foram possíveis” porque, diz, “além das causas próprias [de cada país] Cuba resistiu”.

A criação do Plano Marchall para Cuba até não é tarefa impossível – basta que a China ou o Brasil o queiram. Mas será que o querem? Os países que fizeram viragens à esquerda estão com problemas económicos e políticos. A ver vamos se o “farol do socialismo latino-americano” tem a compaixão alheia! E se a tiver a que preço.

A sobrevalorização que Atilio Boron faz do papel de Cuba é evidente. Só no coração ansioso de Atilio Cuba desempenhou papel agregador e potenciador de resistências e lutas - nem o país tem dimensão económica, geográfica e política para isso. Muito menos na ideologia Cuba constituiu um referencial de descoberta marxista, de evolução revolucionária na resposta ideológica ao neoliberalismo e ao novo imperialismo global. Aliás, este é um dos seus principais fracassos. Cuba não só repetiu, à sua escala, os erros fundamentais do “socialismo real” - fusão do partido com o Estado e o exército, violação dos direitos humanos, ausência de democracia, ausência de socialismo no direito, dogmatismo, incompreensão sobre o papel do Estado (…) - como valeu quase zero na construção política dos fóruns e dos movimentos sociais, esses sim com papel significativo na acção popular e na transformação política latino-americana.

É não reconhecer e conhecer o papel dos povos que leva a estas incredulidades.

Já Raúl Castro, em discurso recente, faz um reconhecimento: “a suprema ignorância económica da população (…) que se mentiu e se enganou, que durante 50 anos se acostumou a esconder falhas com secretismos”. Apesar de “Fidel ter declarado, em 1976, que lutaremos denodadamente para elevar a eficiência económica” e “ter insistido, em 1986, que muita gente não entende o Estado Socialista, nenhum Estado, pode dar o que não tem”. Afinal parece que a culpa é do povo ignorante.

E entre tantos anos, sem congressos do partido, não há ninguém que pergunte porquês?

Victor Franco

 

 

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