Portugal: de aldrabão em aldrabão até ao derradeiro trambolhão? Versão para impressão
Sexta, 28 Outubro 2011

 

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O Presidente da República provocou um terramoto de magnitude 7.5 na escala de Passos ao afirmar que os cortes dos subsídios de férias e de Natal aos funcionários públicos e pensionistas eram “uma violação do princípio básico da equidade fiscal”.  Os móveis tremeram na residência oficial do primeiro ministro e consta que o dito também tremeu com a réplica, uns segundos depois, ao ouvir de Cavaco Silva que “há limites para os sacrifícios que podem ser pedidos aos portugueses”. O ministro das Finanças ficou debaixo dos escombros da TSU, mas foi salvo por um repórter televisivo especialista em  farejar moribundos, que o ouviu gemer: “Socorro, era só uma teoria académica nunca antes aplicada em humanos”. Caíram-lhe todos em cima, comentadores, economistas, dirigentes e ex-dirigentes do PSD, como Manuela Ferreira Leite, Marques Mendes e Vasco Graça Moura, dirigentes e ex-dirigentes do CDS, como Pires de Lima e Lobo Xavier. Este último, especialista em Direito Fiscal, chegou  a questionar se não estaria já a ser violada a Constituição com os cortes nos subsídios dos funcionários públicos”.  O bispo Torgal Ferreira diz que é o “Apocalipse Now”.

Outra vítima foi o ministro da Economia, o Álvaro, que ficou soterrado debaixo da enorme pilha de secretários de Estado do seu Ministério que ruiu completamente.  A equipa de mineiros de Moncorvo enviada para o resgatar teve dificuldade em encontrar uma pista, uma vez que ainda não produziu nada que se visse. Foi descoberto em estado de choque, sem saber de que terra era, agarrado ao secretário de Estado Almeida Henriques, que, aflito, lhe puxou pela memória, com um cachaço: “- Então, pá, não te lembras?, és de Viseu; não me digas que também te esqueceste da promessa da auto-estrada para Coimbra (só, só mais uma!) e do comboio para a Europa?” Álvaro continuou apopléctico. O prognóstico permanece reservado...

Os ministros andam numa roda-viva a tentar encontrar apoiantes sobreviventes entre as milhares de vítimas. Pedro Mota Soares, ministro da Solidariedade Social e da Segurança Social, preocupado com o facto de o líder do CDS não dar sinais de vida ( logo ele que tanto falou na campanha a favor dos pobrezinhos), fez um apelo aos trabalhadores da Administração Pública para se oferecerem como voluntários para ver se  descobrem Paulo Portas.

Finalmente chegou a equipa de especialistas de hermenêutica que rapidamente interpretaram as palavras do Presidente da República: “Sua Excelência apenas quis dizer que, para haver equidade fiscal terão de ser cortados também os subsídios de férias e de Natal dos trabalhadores do sector privado”. Francisco Van Zeller, ex-patrão dos patrões, actual presidente do Conselho para a Promoção da Internacionalização, apressou-se a dizer “ámen” e gritou: “aleluia, aleluia!”. Capucho repetiu que sem repartição dos sacrifícios pelos privados não haverá equidade.  É certo que Passos Coelho já respondeu a Cavaco, dizendo que cortar salários no privado é “injusto e imprudente”, mas há quem receie que seja apenas um remoque ressabiado e que o governo chegue a esse extremo, como André Macedo, comentador de economia na TSF, que se mostrou convencido de que tal medida é uma “bala de prata no bolso do governo”.

E como é que alguém pode confiar em Passos Coelho, que está a fazer tudo o que negou que faria durante a campanha eleitoral? Disse que era um disparate cortar o subsídio de Natal e depois de cortar 50% em 2011(disse que seria só este ano), acabou por cortar dois subsídios até 2013 a quem ganhe mais de mil euros e um subsídio a quem ganhe entre 600 a mil euros; disse e escreveu que o IVA era o imposto mais estúpido que existe porque tanto penaliza o rico como o pobre, e a primeira medida anunciada foi aumentar o IVA de 6% e 13%  para 23%, incluindo em bens de primeira necessidade, como a água e a comida (há trabalhadores  sem subsídio de alojamento e de alimentação que se vêem obrigados a comer nos restaurantes e a beber água engarrafada, apesar de ser mais ecológico e até mais seguro, na maior parte do país,  beber água da torneira). As associações de restauração prevêem que o aumento do IVA provoque a falência de muitas centenas de restaurantes, o que levará milhares de trabalhadores para o desemprego. E como irão sobreviver muitos artistas, já de si em situação tão precária, com o aumento do IVA para a Cultura que é o alimento do espírito? Se Sócrates foi caricaturado, muito justamente, com o nariz do Pinóquio (que cresce quando mente), o nariz de Passos já deve ter feito a viagem de circum-navegação.

Eu bem queria levar isto a brincar, mas esta gente até nos rouba o sentido de humor. Sérias são as afirmações recentes do professor Bruto da Costa: “A crise não é aproveitada para reduzir as desigualdades. Os muito ricos não são atingidos pelas medidas. Deviam pagar proporcionalmente aos seus rendimentos e à sua riqueza”.  São eles que se ficam a rir. Até quando?...

Última hora: o governo decretou alerta laranja durante o próximo mês de Novembro, face à previsão de forte actividade sísmica,  podendo virar alerta vermelho nos dias 24 e 26. “Já se ouve o brado da terra”. Façamos com que trema!

Carlos Vieira e Castro

 

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