ZECA – 25 ANOS DEPOIS, CONTINUA A SER O ROSTO DA UTOPIA Versão para impressão
Quarta, 22 Fevereiro 2012

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No dia 23 de Fevereiro de 1987, José Afonso não resistiu à doença que há vários anos o atormentava e que também o impedia de cantar e partiu, com apenas  57 anos de idade.
O seu último espectáculo ao vivo foi  realizado em 1983 e o seu último CD, gravado em 1985.

Deixou-nos uma vasta obra que o torna impar na música portuguesa - pelo novo sentido que introduziu no fado de Coimbra, pela recuperação da nossa música tradicional, pelos poemas que escreveu, pelos poetas que cantou ( de Luis de Camões a Fernando Pessoa)e pelas melodias que criou. Mas é também a PESSOA, de enorme sensibilidade criativa e com profundo sentido humano e crítico que perpetua o nome de Zeca Afonso e atribui a intemporalidade às suas canções.
Zeca dizia que buscava a inspiração para as suas canções no nosso povo e a partir daí exaltava as suas vivências, os seus sofrimentos e as suas aspirações.
Foi assim durante a ditadura fascista ao denunciar vários crimes cometidos de que são exemplo os assassinatos de Catarina Eufémia, em 1954, com “Cantar  Alentejano” e de José Dias Coelho, em 1961, com “A Morte Saiu à Rua”.
Denunciou as arbitrariedades da PIDE/DGS em temas como os “Vampiros” e “Era de Noite e Levaram”, ou o “Cavaleiro e o Anjo”; denunciou a guerra colonial com o tema  “Menina dos Olhos Tristes”; a pobreza com “Menino do Bairro Negro” ou o “Tecto do Mendigo”.  Exaltou valores solidários como “Traz Outro Amigo Também” ou “O Meu Menino é D’oiro”.  Gritou a revolta em “ Redondo Vocábulo” ou a “Epigrafe Para Arte de furtar”

A ditadura fascista procurou abalá-lo, sem sucesso. Prendeu-o várias vezes e impediu-o de exercer a sua profissão de professor.
Esta pressão aproximou-o ainda mais do seu povo, encontrando nos trabalhadores e nas suas lutas, nas colectividades e nos sectores mais esclarecidos o seu “porto de abrigo”.
O Zeca devolvia esse carinho com as suas canções de esperança, que tantas vezes deram o ânimo necessário para manter a chama da luta acesa e confiante, culminando com  “Grândola Vila Morena”  na madrugada libertadora do 25 de Abril.

Nos anos que se seguiram à Revolução e até à sua morte, Zeca não parou de compor, de escrever e de estar sempre atento à vida dos mais pobres e oprimidos, continuando a exaltar as lutas em temas como os “Índios da meia praia” ou “Alípio de Freitas”, entre outros.
Mesmo podendo não concordar com todas as suas opções, sabemos que estas eram sempre defendidas com a sinceridade e a convicção de que seriam as melhores para o seu povo, com total desprendimento face a glórias ou a quaisquer benefícios.

Naturalmente, todos sentimos muitas saudades do Zeca... da sua voz, das suas músicas, da sua generosidade, da sua modéstia e das suas histórias. Do seu exemplo cívico.

Vinte e cinco anos depois, poderemos dizer que honrar a memória do Zeca é juntarmos forças para defendermos  a nossa identidade cultural, a nossa língua e a nossa música. É também podermos continuar a cantar as canções que denunciem a destruição que o nosso povo e o nosso país estão a sofrer com este governo da troika. É, acima de tudo, podermos dizer ao Zeca que o seu exemplo continua a inspirar-nos, em particular às gerações mais jovens e que, apesar das ameaças que pairam no nosso país, todos juntos temos forças capazes de defender o Portugal que ele ajudou a dar nova vida e luz na Revolução de Abril.

Vitor Sarmento

 

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