POEMA DE HOMENAGEM A MANIF DA GERAÇÃO A RASCA. Versão para impressão
Terça, 06 Dezembro 2011

 

eduardo valdrezNós andávamos pelas ruas, todos os dias, plenos de entusiasmo,

e hoje desviamo-nos delas.

Cantávamos as mesmas músicas, em multidão,

hoje nem sempre as ouvimos, nem os cantos dos pássaros.

Talvez estejamos apenas assustados.

Os sonhos são sempre possíveis

planos, fantasias, desejos, desilusões.

Aqui está o que resta de uma vida.

E vivemos uma terrível impressão

de que falta "algo mais" do que a mera tranquilidade.

Como aquele amputado que coça o membro que perdeu,

ou a mãe que espera o filho em casa, e não sabe se ele volta

no dia seguinte ao emprego,

ainda sentimos e vivemos a urgência desses tempos.

Mas, agora, depois do 12 de Março,

aguardando, como à saída de uma porta, face a tantos sorrisos,

talvez seja possível, ainda, uma última cartada.

 

poema de Eduardo Valdrez, autor de Na direcção do olhar (Lugar da Palavra, 2010)