Não vos mataram, semearam-vos! Versão para impressão

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Estamos aqui hoje [02-04-2011] para recordar e prestar homenagem a um homem da liberdade. Digo-o com a simplicidade de quem reconhece a força, a coragem e a grandeza de espírito que são necessárias para se ser em absoluto e de forma intransigente um homem da liberdade ou uma mulher da liberdade. Ao Padre Max foi essa grandeza que lhe custou a vida. Por isso não o esquecemos, os que estamos aqui e muitos outros, os que o conheceram e os que, como eu, apenas podem procurar nesta memória viva a inspiração e o exemplo para todas as lutas, presentes e futuras.

Tinha razão quem dizia, depois do assassinato do Padre Max e da Maria de Lurdes, que não os mataram, semearam-nos. Porque eles foram verdadeiramente mártires desta nossa liberdade conquistada a pulso.

Se foi assim em todo o país, nestas terras a luta foi ainda mais dura. Em Trás-os-Montes, o 25 de Abril chegou mais tarde, travado pelas mesmas forças reaccionárias e conservadoras que assassinaram o Padre Max. Mas se mataram o homem, esqueceram a semente do ideal que ele transportava. Essa semente ficou. Foi preservada e cuidada pelo povo, e foi precisamente a comoção e o movimento populares que se seguiram ao assassinato que determinaram a derrota de qualquer tentativa de contra-revolução a partir do Norte do país.

A extrema-direita acabou por ser derrotada, mas os seus crimes continuam a repugnar-nos e a sua impunidade perante o terror que espalharam ainda nos revolta, determinados que continuamos em levar até ao fim a vitória da justiça sobre o terrorismo.

Devemos por isso fazer de cada dia, de todos os dias, uma homenagem a todas as vitimas do MDLP e a todos os que deram a vida por este combate pelos ideais de libertação da exploração, do poder popular e do socialismo, contra as forças conservadoras e reaccionárias.

A memória é um bem valioso, é ela que nos distingue enquanto indivíduos ou enquanto colectivo. Trazer na História um homem como o que hoje homenageamos é um orgulho mas é também uma responsabilidade.

O Padre Max era um defensor da convergência entre marxistas, cristãos e democratas de esquerda. Era um prossecutor da unidade em nome do ideal socialista, um visionário da proximidade entre todas as correntes de libertação da humanidade. Esta é uma lição que deve ser tão presente na nossa memória como na nossa vida. Esta é a semente que devemos fazer crescer e florescer.

Sobre a curta vida deste homem não há muito que possa acrescentar. Esteve no Maio de 68 movido pelas mesmas convicções que, depois do 25 de Abril o trouxeram à terra-natal, respondendo ao apelo da serra que era o apelo da transformação democrática.

A convicção levou-o a aceitar ser candidato independente pela UDP, porque se “um padre incomoda muita gente, um padre da UDP incomoda muito mais”. Nós podemos hoje afirmar que um padre que a UDP – e o Bloco de Esquerda - não esquecem continua a incomodar muito. Tanto que a vereação, incomodada, se recusa a atribuir o nome dele a uma rua da cidade.

Tudo o que vos possa dizer sobre a vida deste homem vai parecer-vos redundante, e ainda mais a quem o conheceu e com ele conviveu de perto. Mas venho aqui também garantir-vos, em nome das gerações mais novas, que a memória do Padre Max irá continuar a incomodar, a acossar, e a desinquietar muita gente.

Por tudo o que representou para a luta pela emancipação popular, por todos os combates que travou, pelas oito horas de trabalho, ao lado dos trabalhadores dos transportes rodoviários, ao lado dos trabalhadores do comércio, sempre ao lado dos estudantes, por toda a coragem em nome de um 25 de Abril que ainda não tinha chegado, e pela forma como morreu, assassinado pela reacção, o Padre Max é verdadeiramente um mártir da liberdade. Tenhamos nós a coragem de assumir aquele que é o seu legado: servir o povo e nunca se servir dele.

Joana Mortágua, na cerimónia de homenagem ao Padre Max.