Magna Carta – Constituição Económica Versão para impressão
Terça, 20 Julho 2010

Esta proposta integrada no Projecto Farol, apresenta-se como uma espécie de lei acima da lei ou seja uma constituição económica que condicionará a actual constituição. Ou seja: actualmente a constituição é o garante de um sem número de direitos, liberdades e garantias.

Com a introdução desta tábua das leis nem seria necessária uma revisão constitucional para alterar por exemplo a gratuitidade do ensino e da saúde, pois o cumprimento dos direitos, liberdades e garantias, ficaria sujeito ao cumprimento dos critérios económicos definidos na Magna Carta.

O que significa na verdade esta proposta?

Na verdade, iremos ter a legitimação do que actualmente se sente mas não se admite: a supremacia do poder económico em relação ao poder político. Em substituição dos valores democráticos teremos os valores do produtivismo, em vez de ministros teremos os CEO´s, em vez de deputados vamos passar a ter accionistas e assim por diante. Em substituição da vontade das pessoas virá a vontade do mercado que ao contrário destas sabe como governar e governar-se.

Ao invés de políticas para a sociedade virá a economia planeada ao melhor estilo do Capitalismo de Estado praticado pela China, voltando a uma idade média de direitos em que homens e cabeças de gado são iguais instrumentos de trabalho, valendo apenas a mais-valia que se consegue espremer do seu corpo.

Lembram-se do 1984 em que os cidadãos são sujeitos a todo o tipo de controlo e privações devido a uma guerra que não percebem, não são culpados nem a pediram? Pois bem, aqui a ideia é semelhante, instaurar uma série de privações e limitação de direitos devido a uma crise que os Portugueses não percebem, da qual não são culpados e cuja presença também não foi requisitada.

Conhecida pela sua criatividade em termos de contabilidade maquilhada e auditorias feitas à medida, a Delloitte vem a pedido dos seus maiores clientes, maquilhar uma transição de sistema político de uma Democracia com grandes dificuldades, para uma Oligarquia mafiosa liderada pelos detentores do poder económico.

O desrespeito para com a pessoa, para com o Português trabalhador, que aperta o cinto com o mesmo amor ao País com que põe uma bandeira nacional na janela em dia de jogo da selecção é repugnante.

A sobranceria intelectual que um projecto destes comporta, como se a capacidade interventiva na sociedade se baseasse apenas na conta bancária de cada um é execrável.

“Nós os ricos é que sabemos pensar, dispensamos o pensamento e a participação da maioria dos portugueses porque como podem ver somos nós que temos o dinheiro, logo temos o poder, vocês são uns pobres coitados, uns iletrados, uns zés-miséria”. Nesta sua prepotência compreende-se que ponham a nossa constituição de lado para aprovar a deles.

As propostas da direita já começaram em completa sintonia com as propostas que emergiram do Projecto Farol: desde o fim da gratuidade no ensino e na educação, até ao fim do despedimento por justa causa.

No meio de tanto liberalismo vazio nem compreendem que se um cidadão paga impostos e ainda tem de pagar a educação, a saúde, a justiça… está a pagar a dobrar.

Suspenda-se a democracia não por seis meses, mas para sempre, pedem os signatários deste esotérico Projecto Farol com a sua Magna Carta. Suspenda-se o pensamento e a crítica e sem dúvida que a direita governará a seu bel-prazer. Suspenda-se porque a vontade do povo nada interessa, o povo é burro porque é pobre, e pobre porque é burro.

Ora o erro da direita reside exactamente neste desprezo pelas pessoas. Também foi assim na altura do Estado Novo. Os nossos jovens eram tratados como bonecos num qualquer jogo de colonialismo.Hoje em dia os nossos jovens são deitados ao lixo da precariedade, estamos a criar gerações e gerações com os sonhos adiados pela irresponsabilidade de governos PS/PSD/CDS.

Na altura a sociedade portuguesa começou a ganhar consciência e a questionar a legitimidade de um governo que protegia os fortes e desprezava os fracos, que condenava os seus filhos a uma guerra sem razão. Hoje em dia, a pouco e pouco, a juventude começa a despertar, a querer saber que alternativas existem a este status quo.Procuram novos modelos, novas ideologias, reinventam, descobrem, debatem e acima de tudo pensam a sociedade.

O erro da direita é não acreditar nas capacidades dos nossos jovens, de pensar que os jovens esquecem quem lhes deitou os sonhos por terra, de quem lhes adiou as vidas e as oportunidades. Estes jovens, forjados nas dificuldades da crise, na tristeza de fazer parte de um país adiado, estes jovens são o futuro.

Com as dificuldades formamos o nosso carácter, construímos líderes e ansiamos por uma mudança. Com cabeça recusamos qualquer farol, pois aprendemos a desconfiar deles. Com razão, paixão e acima de tudo confiança em nós mesmos trabalhamos para um futuro mais justo.

Francisco Silva