A Maria (não) vai votar Versão para impressão
Terça, 31 Maio 2011

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Maria tem 47 anos e é funcionária pública. É casada, tem dois filhos, um deles estudante universitário. O marido, com o qual vive há 26 anos, é trabalhador numa empresa particular há cerca de 15. A sua mãe é viúva e vive na sua casa. O orçamento no final de cada mês não é brilhante, contudo, com muito esforço consegue pagar todas as despesas.

Artigo de Rute Simão

Numa vida tão atarefada onde as responsabilidades familiares e profissionais falam mais alto, a política é um assunto sobre o qual não gosta de se debruçar. Tem a mesma opinião que muitos outros portugueses e acredita que partidos e políticos são todos iguais e são poucas as diferenças que os separam. As eleições passam-lhe ao lado e votar não é um hábito. Das poucas vezes que o fez, votou no partido que as sondagens diziam que iria vencer; afinal de contas, se a maioria vota nele é porque não deve ser tão mau como os outros.

No dia 5 nem ela nem o marido foram votar. Não têm esperança em nenhum dos líderes que se candidataram e têm a certeza que aquele que “para lá for” pior não fará de certeza.

O partido que assumiu o Governo a 5 de Junho de 2011 veio agredir a sua família de uma forma tão violenta como jamais lhe passaria pela ideia.

O FMI entrou-lhe casa adentro sem bater à porta: o IVA aumentou e a factura do supermercado está visivelmente mais pesada. Na saúde além das taxas moderadoras terem subido, foram reduzidos em 30% os custos orçamentais com as ajudas na ADSE. O gás e a electricidade aumentaram assim como o preço dos transportes que o seu filho constantemente utiliza para se deslocar para a cidade onde estuda. Maria tem também de descontar mais um ponto percentual do seu vencimento mensal para a Caixa Geral de Aposentações (CGA) e na altura de fazer deduções dos impostos as despesas com casa, saúde e educação são reduzidas. O abono de família que já não era muito levou um corte avassalador. O marido foi despedido e recebeu apenas uma indemnização de 10 dias por cada ano de trabalho, além de que o subsídio de desemprego lhe será reduzido a partir do 6º mês e terá uma duração máxima de 18 meses. A ridícula reforma que a sua mãe recebia foi congelada e mal chega para pagar os medicamentos de que necessita.

Num agregado familiar de 5 pessoas, apenas Maria trabalha, dois filhos estudam e um deles fora da cidade. As contas aumentam, as ajudas foram passar férias e no fim do mês o orçamento já não estica. Para não passarem fome e o filho continuar a estudar fora, Maria com as mãos e os pés atados, vê-se obrigada a não pagar a renda de casa. Ao fim de 3 meses recebe uma ordem de despejo.

É altura de reflectir e ser parte da decisão. Cada voto conta e não podemos deixar que nos venham agredir desta forma. Votar é lutar pela nossa casa, pela nossa carteira, pela dignidade do nosso país. A alternativa existe e está aqui.

A todas as Marias que nunca votaram: dia 5 é o dia!

 

Rute Simão